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Futebol: Seleção Feminina estreia com vitória na Copa do Mundo

A seleção feminina, comandada pelo técnico Vadão, encerrou uma sequência de 9 derrotas

Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Cristiane marcou os 3 gols do jogo
Cristiane marcou os 3 gols do jogo

Com três gols de Cristiane, o Brasil venceu a Jamaica por 3 a 0 na estreia da Copa do Mundo da França. A seleção feminina, comandada pelo técnico Vadão, encerrou uma sequência de nove jogos sem vitórias. A última foi diante do Japão, por 2 a 1, em 29 de julho de 2018.

O Brasil está no Grupo C, que mais cedo contou com vitória da Itália de virada por 2 a 1 diante da Austrália, uma das favoritas ao título. Com a vitória, as brasileiras lideram pelo saldo de gols. A seleção brasileira feminina volta a campo na próxima quinta-feira, às 13h, diante da Austrália.

O Brasil começou pressionando a Jamaica desde o começo e a primeira grande chance surgiu aos sete minutos. Andressa Alves deu passe magistral para Debinha, que tentou driblar a goleira e acabou perdendo o gol.

A Jamaica focou na marcação, mas conseguiu chegar aos 13 minutos. Após jogada individual, Shaw entrou na área e chutou, mas Bárbara defendeu. Aos 15 minutos, o gol do Brasil saiu. Andressa Alves foi acionada na esquerda e cruzou na cabeça de Cristiane, que não desperdiçou.

Vale ressaltar a partida espetacular de Andressa Alves. O lance do gol teve início na persistência da jogadora. Após passe errado na esquerda, ela não desistiu da jogada e conseguiu escanteio. Na sequência da jogada, o gol saiu. Além disso, a jogadora demonstrou muita qualidade nos passes, deixando Debinha duas vezes na cara do gol. Apesar do pênalti perdido depois, sua atuação foi muito bem comentada por torcedores nas redes sociais.

Aos 24, Andressa Alves colocou de novo Debinha na cara do gol lindo lançamento. Ela demorou um pouco e finalizou em cima da goleira. A Jamaica respondeu em dois lance. Primeiro com Carter com finalização sem perigo. Depois com Shaw, chutou de longe e forte, exigindo elasticidade da goleira Bárbara, que mandou para escanteio.

Andressa Alves teve oportunidade de se consagrar aos 37 minutos, em cobrança de pênalti. Ela, porém, bateu fraco e sem olhar para a goleira, que se movimentou antes da batida para defender.

Na volta do intervalo, Cristiane levou perigo. Chamou para dançar duas adversárias dentro da área, mas chutou por cima. Aos quatro minutos, o Brasil ampliou. Debinha fez linda jogada individual e acionou Andressa Alves na direita. Ela colocou rasteira dentro da pequena área. Já sem muito ângulo, Cristiane apareceu de carrinho na segunda trave para marcar novamente.

Depois do segundo gol, a Jamaica cresceu no jogo e chegou com perigo duas vezes. Shaw desviou de cabeça e, contanto com má saída de Bárbara, quase fez. Swaby perdeu chance incrível na pequena área após nova falha de Bárbara na disputa pelo alto.

Cristiane estava mesmo inspirada. Aos 18, em cobrança de falta perfeita, ela marcou seu hat-trick. A bola foi no lado da goleira adversária e bateu no travessão antes de pingar dentro do gol.

Com a vantagem no placar, o jogo deu uma esfriada e Vadão aproveitou para fazer substituições, poupando a própria Cristiane. Geyse e Ludmila entraram bem e fizeram duas jogadas conjuntas, primeiro com finalização de Geyse para boa defesa da goleiras e, depois, com chute forte de Ludmila para fora.

"Você não tem noção de como eu estou feliz. Não dá pra esconder os nossos erros, mas hoje foi uma volta por cima pra mim, pessoal, e para o grupo. Agora é continuar com o trabalho porque as próximas seleções virão muito ligadas", disse Cristiane após o jogo, que se tornou a segunda maior artilheira do Brasil em Copas do Mundo com oito gols, atrás apenas de Marta, que tem 15.

Todas as goleadoras da Seleção Brasileira Feminina em Copas do Mundo

15 - Marta
10 - Cristiane
7 - Sissi
6 - Kátia Cilene
5 - Pretinha
3 - Rosana
2 - Cidinha, Daniela Alves, Formiga e Roseli
1 - Andressa Alves, Elane, Erika, Maicon, Nenê, Raquel e Renata Costa

Cristiane e a taça

Passar ao lado de uma taça de Copa do Mundo, analisando todos os seus detalhes com afinco, é uma cena que fica para sempre na memória. Mesmo que ele não pare nas suas mãos, o troféu é o símbolo máximo de toda uma trajetória de sucesso. A cena reverbera nas lembranças de Cristiane, atacante da Seleção Brasileira e terceira melhor jogadora do Mundial de 2007.

Maior artilheira da Seleção em Olimpíadas, entre homens e mulheres, a jogadora relembra o momento em que esteve ao lado da taça antes de entrar no gramado da final contra a Alemanha. Para Cristiane, a proximidade da maior glória do futebol já era um triunfo por si só.

- Ao passar ali do lado da taça, você percebe o quanto foi importante toda nossa trajetória, já que tinha sido uma campanha de muita dificuldade. E sem tantos privilégios quantos as meninas tem hoje. É um orgulho que eu tenho ter conseguido chegar a uma final de Copa do Mundo. Nós éramos a seleção com menos expectativa criada por todo mundo, até por outros países, já que em 2003 não tínhamos feito um bom desempenho. Acho que essa final teve um gosto especial, era a primeira vez para todo mundo, o país todo acompanhando. Mesmo com a derrota, é uma memória coletiva que eu guardo para mim - analisou a atacante.

Mesmo em meio aos nervos da decisão, Cristiane lembra que o ambiente nos vestiários era o mesmo do restante do Mundial: repleto de música. O samba era frequente nas concentrações da Seleção, que tinha na atacante a DJ da equipe - a artilheira faz da música um hobby no tempo livre.

- Hoje as pessoas falam que é loucura, que é falta de respeito. Mas a gente sempre chegava com um samba! A gente chegava no estádio tocando samba dentro do vestiário, também. Nossa concentração era basicamente essa, a gente estava sempre feliz, alegre. No túnel para entrar em campo era muito doido, porque a gente ainda mantinha essa alegria. Você não via todo mundo sério, olhando para frente cara de brava, não! Estávamos descontraídas! Era uma sensação muito boa que tínhamos umas com as outras - completou Cristiane.

A Copa do Mundo de 2007 também foi um marco na história pessoal de Cristiane, já que foi a primeira edição da atacante como titular. Para a camisa 11, a sensação de estar no mesmo grupo que atletas experientes superou a tristeza do vice-campeonato.

- Eu era titular, já tinha brigado, conseguido essa vaga. Era minha primeira Copa do Mundo como titular, realmente jogando com o grupo, e ainda bem novinha. Tinha também a alegria de saber que, mesmo muito nova, consegui integrar um grupo de mulheres um pouco mais velhas e com mais experiências que eu. Foi muito especial ter jogado essa final. Óbvio que no fim bate aquela tristeza de todo mundo, porque tínhamos a esperança do feito inédito. Ainda assim, voltamos muito orgulhosas para casa com o desempenho em meio a tantas dificuldades - completou.

Relembre as campanhas da Seleção

A Seleção Brasileira sonha com o primeiro troféu, mas já fez campanhas memoráveis e apresentou grandes craques ao futebol feminino. Vamos voltar no tempo e relembrar cada uma das edições de Copa do Mundo.

1991 – China

O Mundial de 1991 inaugurou a disputa do futebol feminino em proporções globais. Pela primeira vez, as melhores seleções do mundo se reuniam em um lugar para disputar um torneio dessa magnitude. Foram 12 países disputando o título entre os dias 16 e 30 de novembro de 1991.

O representante da América do Norte foram os Estados Unidos. A Nigéria representou a África. A China disputou como país-sede, ao lados dos asiáticos Japão e Taipei. Pela Europa, foram Suécia, Noruega, Dinamarca, Alemanha e Itália, enquanto a Nova Zelândia foi o país da Oceania. O Brasil foi o único representante sul-americano no torneio.

Grandes expoentes do futebol feminino no Brasil, Roseli, Adriana, Márcia Taffarel, Pretinha e tantas outras fizeram história ao vencer a primeira partida da Seleção Feminina em uma Copa do Mundo – 1 a 0 sobre o Japão, gol da zagueira Elane. A Canarinho foi derrotada nos dois jogos seguintes, diante de Estados Unidos e Suécia, e ficou em terceiro lugar no Grupo B, onde apenas as duas melhores equipes avançavam.

As americanas viriam a levantar a taça, na final contra a Noruega por 2 a 1, sendo assim a primeira seleção campeã do mundo.

1995 – Suécia

A Copa do Mundo viajou à Escandinávia quatro anos depois. A Suécia recebeu as doze seleções candidatas ao título durante o mês de junho. O Brasil novamente foi o único representante da América do Sul no Mundial.

A edição de 1995, além de contar com as já experientes Roseli, Elane, Pretinha, Márcia Taffarel e a goleira Meg, marcou a estreia de lendas da nossa Seleção, como Kátia Cilene, Leda Maria, Michael Jackson, Tânia Maranhão e a camisa 10, Sissi, além de uma jovem, conhecida por Formiga. Um time memorável.

O grupo da Canarinho não era fácil: Alemanha, Suécia e Japão seriam as adversárias da equipe comandada pelo treinador Ademar Fonseca. A Seleção estreou vencendo as donas da casa por 1 a 0 – gol marcado por Roseli. Mas as derrotas para Japão e Alemanha descredenciaram o Brasil para a disputa da segunda fase.

Na partida final, a Noruega venceu a Alemanha por 2 a 0 e se tornou a segunda seleção a levantar a taça da Copa do Mundo.

1999 – Estados Unidos

O Mundial chega à América. Os Estados Unidos, campeões da primeira edição, sediaram a primeira Copa disputada por 16 seleções. Mesmo com o aumento de participantes, a América do Sul seguiu com um único representante: o Brasil.

A Seleção Brasileira, comandada por Wilson Oliveira, ostentava uma geração de grandes jogadoras: Tânia Maranhão, Elane, Kátia Cilene, Formiga, Pretinha e Sissi seguiam no elenco, agora acompanhadas de Juliana Cabral, Maycon e a goleira Andreia.

Logo na estreia, uma goleada por 7 a 1 sobre o México, com três gols de Pretinha, três de Sissi e um marcado por Kátia Cilene. A craque Sissi também marcou dois na vitória por 2 a 0 sobre a Itália. Pela frente, a Alemanha, atual vice-campeã do mundo. Um eletrizante empate em 3 a 3 em Washington deu ao Brasil a inédita primeira colocação e classificação para a fase seguinte. Kátia Cilene, Sissi e Maycon, aos 48 do segundo tempo marcaram para a verde-e-amarelo.

Em mais uma partida de tirar o fôlego, nas quartas de final, a Seleção venceu a Nigéria por 4 a 3 – com um gol de ouro marcado por Sissi na prorrogação. A derrota por 2 a 0 para os Estados Unidos na semifinal colocou o Brasil na disputa pelo terceiro lugar, contra a atual campeã Noruega. A Canarinho venceu nos pênaltis após um empate sem gols e subiu ao pódio pela primeira vez em um Mundial. O título ficou, pela segunda vez na história, na mão das americanas.

Ao lado da chinesa Sun Wen, Sissi foi a primeira brasileira artilheira de uma Copa do Mundo, com sete gols. A camisa 10 ainda levou a Bola de Prata, como segunda melhor jogadora do Mundial.

2003 – Estados Unidos

A Copa voltou para solo norte-americano em 2003. Por motivos de uma epidemia, a sede original, a China, teve que passar o bastão aos últimos anfitriões. Mais uma vez a Copa foi realizada com 16 seleções, Brasil e Argentina representaram a América do Sul.

Sob o comando de Paulo Gonçalves, uma nova geração chegava à amarelinha. Marta, Cristiane, Rosana se juntavam a nomes remanescentes como Formiga, Andreia, Maycon e Kátia Cilene em um grande elenco.

Na primeira fase, duas vitórias e um empate. Na primeira rodada, 3 a 0 contra a Coreia do Sul, com gols de Marta e dois de Kátia Cilene. Um 4 a 1 sobre a Noruega – Daniela, Rosana, Marta e Kátia Cilene marcaram. E fechando com um empate em 1 a 1 com as francesas. Mais um gol de Kátia Cilene.

A eliminação veio nas quartas de final, contra a seleção sueca, que venceu por 2 a 1, mas o melhor estava por vir quatro anos depois. 

A decisão do título naquele ano entre alemãs e suecas foi decidida no gol de ouro. Quando Nia Künzer balançou as redes aos oito minutos da prorrogação, a Alemanha estava declarada campeão mundial pela primeira vez.

2007 – China

A Copa do Mundo volta à China. Novamente, 16 seleções disputaram o torneio. O Brasil e a Argentina foram os países classificados da América do Sul. A competição aconteceu em setembro de 2007.

A seleção comandada por Jorge Barcellos foi cercada de muito talento, mesclando harmonia, experiência e entrosamento, fatores que foram importantes para uma campanha histórica.

Os nomes não eram poucos: Marta, Cristiane, Pretinha, Formiga, Maycon, Tânia Maranhão, Daniela Alves, Ester e mais uma sobra do talento típico brasileiro para lidar com a bola. Também foi o primeiro Mundial da goleira Bárbara, que era a reserva da titular Andréia Suntaque.

A fase de grupos foi arrasadora em Wuhan: 5 a 0 sobre a Nova Zelândia, com gols de Daniela, Cristiane, Marta duas vezes e Renata Costa; 4 a 0 sobre a anfitriã China, com Marta e Cristiane marcando duas vezes cada; uma vitória simples sobre a Dinamarca, gol salvador de Pretinha nos acréscimos.

Depois vieram as quartas de final, a Austrália caiu no caminho. Um 2 a 2 persistia até o minuto 30 do segundo tempo, quando Cristiane deu a classificação ao Brasil.

Então veio a semifinal, em um duelo muito aguardado contra as americanas, bicampeãs mundiais. Poucos poderiam prever o fim daquela noite em Hangzhou. O Brasil teve uma atuação de gala, goleou por 4 a 0 e Marta marcou um gol que quem assistiu nunca mais esqueceu. Considerado por muitos o mais bonito das Copas. Ela ainda marcou outro gol no jogo, Leslie Osborne abriu o placar com um gol contra e Cristiane fechou a conta.

A final em Xangai foi contra a fortíssima seleção alemã. Foi uma doída derrota por 2 a 0, mas que não impediu aquele time brasileiro de fazer história. Marta, camisa 10 da Seleção, foi a artilheira e eleita melhor jogadora do torneio.

2011 – Alemanha

As atuais campeãs do mundo, a Alemanha, foram as anfitriãs da competição em 2011. Neste ano, o Brasil recebe a companhia da estreante Colômbia como representantes da América do Sul.

A Seleção Brasileira, mais uma vez comandada por Jorge Barcellos, trazia a mesma base do time vice-campeão mundial, com algumas novidades, como a zagueira Érika e a atacante Bia Zaneratto, que tinha apenas 17 anos.

A estreia contra a Austrália terminou com vitória brasileira e gol de Rosana. Contra a Noruega, dois gols de Marta e mais um de Rosana deram a vitória por 3 a 0. Fechando a fase de grupos, a Canarinho encontrou a estreante Guiné Equatorial e também venceu por 3 a 0, com gols de Érika e Cristiane duas vezes.

O encontro com as americanas nas quartas de final foi de tirar o fôlego. Empate em 1 a 1 no tempo normal e mais um gol para cada lado na prorrogação. Marta marcou os dois do Brasil. Na decisão por pênaltis, melhor para os Estados Unidos. As americanas chegaram à final e enfrentaram as japonesas. Só que desta vez quem levou a melhor nas penalidades foi o Japão, último campeão inédito do Mundial.

2015 – Canadá

A última Copa foi mais uma vez sediada na América do Norte, desta vez, no Canadá. Esta foi a primeira edição com 24 equipes e pela primeira vez a América do Sul teria três representantes: Brasil, Colômbia e Equador.

No total, foram oito seleções estreantes no Canadá. Além do Equador, Suíça, Holanda, Tailândia, Costa Rica, Camarões e Costa do Marfim disputavam pela primeira vez um jogo de Copa do Mundo Feminina. A edição de 2015 marcou a estreia do técnico Vadão no comando da Seleção em um Mundial.

O Brasil passou bem pela primeira fase: três vitórias sem sofrer gols. Na estreia, triunfo por 2 a 0 sobre a Coreia do Sul, com gols marcados por Marta e Formiga. Contra a Espanha, um gol de Andressa Alves deu a vitória simples ao time brasileiro. O técnico Vadão mudou todo o time para enfrentar mais uma estreante, a Costa Rica, e a vitória veio com um gol de Raquel.

Nas oitavas de final, fase disputada pela primeira vez no Mundial do Canadá, a Austrália derrotou a Seleção por 1 a 0 e adiou o sonho do título inédito. A final foi mais uma vez disputada entre Japão e Estados Unidos, mas as americanas levaram a melhor em 2015, e levantaram pela terceira vez o título de campeãs.