Alexandre Magno Abrão, o Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., foi encontrado morto aos 42 anos em seu apartamento na Rua Morás, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, na madrugada de quarta-feira (06/03). A causa da morte ainda não foi divulgada. A assessoria de imprensa da banda informou que seu estado de saúde era bom e que ele estava de férias e embarcaria para os Estados Unidos nos próximos dias.
Chorão foi encontrado desacordado pelo seu motorista, que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que constatou que ele já estava morto. A Polícia Militar disse ter recebido um chamado às 5h18 para “verificação de morte natural em um apartamento”.
O cantor morava em Santos (SP), mas costumava ficar nesse prédio na zona oeste quando vinha a São Paulo. Segundo o delegado Itagiba Franco, do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) o apartamento estava completamente revirado e com muito sangue, além de bastante depredado, muito provavelmente pelo próprio Chorão.
“Havia sangue no interruptor de luz, nas paredes e no chão, além de muitas garrafas de bebidas alcoólicas. O vocalista estava com um machucado na mão, que parecia ter sido causado por um forte soco desferido. Vizinhos afirmaram terem escutado um barulho de algo quebrando no apartamento de Chorão, por volta da 1h”, contou, dizendo que um pó branco também foi encontrado no local, mas não confirmou se tratar de cocaína nem que a causa da morte esteja relacionada ao uso de drogas
O próximo show da banda estava marcado para o dia 22 de março, em Campo Grande, no Rio. Os músicos do Charlie Brown Jr. lamentaram sua morte. “Estou péssimo”, disse o baixista Champignon. O músico negou que estivesse brigado com Chorão. “A gente brigou algumas vezes na nossa vida, mas felizmente a gente pôde refazer a nossa amizade”, disse.
O baterista Bruno Graveto disse estar “anestesiado” com a notícia. O guitarrista Thiago Castanho também foi pego de surpresa. “Eu perdi um irmão”, disse o músico.
Infância pobre
Ele teve uma infância e adolescência difíceis, a sua mãe era doméstica, fazia pastel, cozinhava para fora. Era Chorão quem fazia as entregas. Vivia na rua, ia mal na escola, parou de estudar na sétima série, e frequentemente tinha problemas com a polícia.
Em 1987, então com 17 anos de idade, despontou na cena artística sendo convidado para substituir por acaso o vocalista de uma banda, quando o mesmo precisou se ausentar devido a necessidades fisiológicas. Uma pessoa da plateia, ao vê-lo cantar, convidou-o para ser vocalista em sua banda. Quando o baixista da referida banda saiu, Chorão veio a conhecer Champignon, o novo baixista, uma criança de apenas 12 anos na época. Eles formaram então a banda What’s Up, que acabou não dando certo.
Tempos depois, Chorão montou o Charlie Brown Jr. “Fundei e batizei a banda com esse nome em 1992. Foi uma coisa inusitada. Trombei (literalmente) com uma barraca de água de coco que tinha o desenho do Charlie Brown, aquele personagem do Charles Schulz, mais conhecido por ser o dono do Snoopy. E o ‘Jr’ é pelo fato de sermos filhos do rock”, explicou, certa vez, o vocalista da Charlie Brown Jr.
Ícone entre os jovens
A estreia do Charlie Brown Jr. aconteceu em 1997 com o lançamento do álbum “Transpiração contínua prolongada”. O trabalho conseguiu o certificado de disco de platina ao vender mais de 250 mil cópias. Entre os sucessos do disco estão “O coro vai comê”, “Proibida pra mim”, “Tudo que ela gosta de escutar”, “Quinta-feira” e “Gimme o anel”.
A banda gravou nove álbuns de estúdio, dois discos ao vivo, duas coletâneas e seis DVDs. Ao todo, o grupo vendeu 5 milhões de cópias. Além de vocalista, Chorão era responsável pelas letras do Charlie Brown Jr e pelo direcionamento artístico e executivo da banda.
Ícone entre os jovens, a banda liderada por Chorão emplacou vários hits, como “Proibida pra Mim”, “Só por Uma Noite”, “Dias de Glória” e “Vou te Levar”. Em 2005, o trabalho “Tâmo aí na atividade” foi premiado com o Grammy Latino de melhor álbum de rock brasileiro, o que se repetiu em 2010 com “Camisa 10 joga bola até na chuva”, da fase em que o vocalista estava separado dos companheiros Marcão e Champignon.
No ano passado, o Charlie Brown Jr. lançou “Música Popular Caiçara”, álbum ao vivo que marcou o retorno dos integrantes Marcão e Champignon à banda. Eles haviam deixado o grupo em 2005. A produção do trabalho foi feita por Liminha e os shows contaram com a participação de Falcão (O Rappa), Zeca Baleiro e Marcelo Nova. Das 15 faixas do CD, a única gravada em estúdio é “Céu azul”.
Apaixonado por skate
Chorão foi o único integrante do Charlie Brown Jr. que permaneceu no grupo em todas as suas fases. Apaixonado pelo skate, participou de diversos campeonatos e foi vice-campeão paulista no esporte.
O apelido ganhou na adolescência, quando ele estava vendo os amigos andando de skate. Um um deles passou por ele e, de zombaria, disse “não chora!”. Chorão nessa época ainda não sabia praticar o esporte.
Ele também fez o roteiro do filme “O Magnata” (2007), com Paulo Vilhena no elenco, que conta a história de um playboy revoltado, e do longa “O cobrador”, ainda em andamento. Como empresário, o cantor também tinha uma linha de roupas em estilo street, a DO.CE, fundada em 2009.
O cantor também viabilizou a realização de grandes eventos de skate no Brasil, além de manter o espaço Chorão Skate Park na cidade de Santos desde 2006.
Artista polêmico
Brigas, desentendimentos com os colegas do Charlie Brown Jr. e até uma discussão com uma fã estão no currículo do músico. Em 2004, Chorão agrediu Marcelo Camelo, do Los Hermanos, na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal e, mais tarde, processado por Camelo, sendo obrigado a pagar uma indenização por danos morais ao músico carioca.
Também em 2004, o cantor se envolveu em uma briga com uma adolescente, durante a gravação do programa ‘Altas Horas’, da Rede Globo. Já em 2005, Chorão virou notícia pelo lado negativo novamente, quando despediu todos os músicos do Charlie Brown Jr. devido às constantes brigas que aconteciam desde o início da banda. Na época, ele inclusive contratou novos instrumentistas, e acabou virando o único remanescente da formação original.
A última polêmica protagonizada pelo músico foi em setembro de 2012, mais uma vez com o colega Champignon. Durante um show em Apucarana, no Paraná, o músico fez um discurso contra o baixista afirmando que o mesmo só decidiu voltar para a banda por causa de dinheiro.
Após ser humilhado pelo cantor frente ao público, Champignon deixou o palco, e o show prosseguiu sem o baixista. Chorão ainda ironizou a atitude do colega brincando com a plateia: “Alguém sabe tocar baixo aí?”, disse.
Ele também foi alvo de críticas por dizer, por exemplo, que “toda patricinha adora um vagabundo”.