Mais de 700 mil veículos circulando por ruas estreitas inicialmente planejadas pelos portugas, mas que com o tempo foi se transformando num imenso labirinto grego e haja engarrafamento. E todo dia a frota aumenta e tome paciência para aguentar os carros velhos quebrados nas ruas e avenidas, esquinas e becos.
Eu sou da tese que carro velho não pode pegar o Bonocô nem a Paralela. O cara vinha do subúrbio com seu carro idoso e quando chegava na Calçada descia, pegava um ônibus e seguia em frente. E ainda recebia um geladinho de suco de uva e duas bolachas salgadas.
O dono de lata velha que morasse na Barra tinha direito de ir até o Iguatemi, descia e pegava o mesmo ônibus que estaria levando o suburbano. Quem morasse em Itapuã e fosse um feliz proprietário de fusquinha, Chevette, Fiat Spázio, SP ou Brasília deixaria o carro no Parque de Exposições e seria recebido no circular com a mesma mordomia. O povo lá das bandas de Sussuarana e adjacências deveria estacionar a fubeca no Centro Administrativo. E tome Cream Cracker com Tang.
Oriento neste sentido, sem discriminar bairro, porque em todos tem carro velho (não confundir com carro antigo como Jaguar, Roll Royce, Simca Chambord e Puma). Tudo que é lugar da cidade tem carro caindo aos pedaços andando. Acho também – e isso caberia aos vereadores serem machos, taí Leo Kret que é retada, para que legislassem – que deveria haver limite para o dono do carro andar com sua “raridade”. E ao Detran caberia fiscalizar. Carros com mais de 30 anos de uso e abuso imediatamente seriam doados para os pescadores da Ribeira, Boa Viagem, Itaparica, Rio Vermelho e Itapuã, para destinação gloriosa de viveiros para peixe, os chamados “pesqueiros”.
Colocava no fundo do mar – pois é degradável e o ferrugem come mesmo – para gerar cardumes de tainha, vermelho, xaréu, jaguaraçá e Maria preta (será que estes peixes são mesmo de fundo de mar? Quatinga eu sei que é. Cavala eu sei que não).
Por causa de dois carros velhos, eu, ontem, pela primeira vez na vida, realizei um sonho. O de pegar engarrafamento dentro de túnel em Salvador, coisa que só vi no Rio de Janeiro no Túnel Rebouças, que liga a Copacabana e aquele que vai para a Barra. Não é que minha felicidade estava estampada e eu fiz questão de abrir a janela para sentir o gostinho da fumaça dentro do túnel que não sei o nome mas que liga a Centenário aos Barris. São apenas alguns metrinhos de túnel – daqui ali e nem fica escuro e nem tem luz acesa – mas deu para o gasto. Fiquei vinte minutos parado e o bom é que também buzinei (perdoe, sonho antigo), acendi as luzes e liguei o pisca-alerta.
O engarrafamento durou e quando saí pela Fonte Nova e peguei o Túnel Américo Simas em direção ao Comércio e estava engarrafado (foi uma Brasília 1974 azul que perdeu a roda, me disse o rapaz do trânsito. Eu disse que aí era demais, dei uma roubada e voltei para casa. Era muito engarrafamento em túnel para um só dia em Salvador. Na verdade não túneis. São passagens. Meros buracos abertos nas pedras. Mas serviu para o gasto. Nisso perdi quase duas horas e não resolvi nada. E se chove, meu rei?