Jolivaldo Freitas

A comida que o Diabo amassou

 Tirei estes dias somente para falar de porcaria. Estou numa fase escatológica e tudo de nojento da cidade parece que está à minha procura, como mísseis Exocets. Atento ao noticiário lá estava escrito que uma grande rede supermercado teve suas portas fechadas por acomodar ninhos de rato. Li e reli, pensando que se tratava do Congresso Nacional, mas era mesmo uma casa de comércio (o que não deixa de ser a mesma coisa), cujo proprietário disse que nunca tinha visto um rato na vida. Nem para o roedor roer sua língua.


Nisso recebi missiva de uma senhora revoltada com os restaurantes da área do Comércio, na Cidade Baixa. Sem ter mais o que fazer enquanto esperava para ser atendida na Justiça do Trabalho, sentou para aproveitar a hora perdida e almoçar. No primeiro restaurante que entrou os atendentes tinham a roupa mais suja que as de açougueiro em dia de feira livre no sertão nordestino.
 
No segundo viu quando o garçom começou a lavar copos e pratos sem sequer trocar a água ou colocar um detergente. Enfiava a mão no copo, pegava o prato e talheres e dava um mergulho na pia cheia de água suja e guardava para servir depois. Perguntou por que não lavava na água corrente e soube que a Embasa tinha cortado a água do restaurante por atraso no pagamento da fatura e quem estava servindo eram os lavadores de carro. Pensei aqui comigo que talvez até minha missivista não saiba, mas pode ser que a água tenha sido resto de lavagem de carro. Deixa lá.
 
No último cacete armado que entrou, já ressabiada, bisbilhotou a cozinha pelo buraco na parede e ficou estarrecida ao ver que tinha teia de aranha, as paredes besuntadas de óleo e o pior foram as frigideiras que de tão pouca lavagem tinham uma crosta como se fosse betume, asfalto, lama ao redor. O óleo de soja, ela não conseguiu ver fritando, mas tem certeza que já foi usado tanto para fazer peixe frito, como bife e asinha de galinha. O cheiro não deixava dúvidas e engulhou.
 
Se mandou e decidiu que ia comer um pastel com caldo de cana, mas parou no meio do caminho quando viu os freixos de canas arrumados no chão, formigas na máquina de moer, o vendedor pegando copo plástico e gelo com a mão suja e o pano que enxugava as mãos um dia tinha sido branco, mas hoje estava amarelo. O pastel nem quis olhar. Passou pelo vendedor, viu que algumas abelhas voejavam na boca da máquina e decidiu dar um conselho breve: “Sai daí abelha que você morre de tétano ou piriri”. E foi com fome em busca de seus direitos trabalhistas.