Jolivaldo Freitas

No toba (lá nele) - I

 Saiu na televisão que um prefeito da cidade de La Toba, na Espanha, decidiu baixar um decreto para educar a população que tem a péssima mania de peidar, arrotar, tirar meleca e colar na parede ou na mesa, comer de boca aberta e chupar a sopa e quem tem cárie fica cutucando com a unha ou chupando a comida que penetra nos furos dos dentes. 


O prefeito está sendo execrado pela população mal- educada. Acho que a ideia é excelente e pode ser aplicada, mesmo que não obtenha sucesso em Salvador. O prefeito poderia determinar que os mal-educados recebessem multas conforme a gravidade da falta de educação.
 
Salvador é conhecida pela cidade em que o vizinho do lado faz questão de colocar o som da eletrola (micro-sistem, claro), lá nas alturas que é para todo mundo saber que ele tem bom gosto musical, e tome arrocha, tecno-brega, axé e pagode ou samba que vem das lajes do Rio de Janeiro e que são de doer.
 
Nas praias, é terrível quando o banhista está deitado sobre uma toalha e passa um sem- educação espanando areia com suas sandálias de dedo. Ou os pais que ficam tomando cerveja e comendo caranguejo enquanto seus lindos filhotes arremessam areia, bola, água, faz cocô na areia.

E nem é bom lembrar que tem o maldito frescobol, os exibidos que ficam jogando capoeira e tem quem leve cachorro para fazer suas necessidades na areia.
 
No quesito mijo, somos imbatíveis. Tudo bem que este hábito que era apenas dos baianos – coisa herdada dos portugueses –, levado pela disseminação e nivelamento por baixo do teor educação, hoje grassa pelo país inteiro.

Até pernambucano que tinha ojeriza ao hábito da gente, já mija nos postes, portões, coqueiros e onde der vontade. Não é mais coisa de baiano, embora aqui a mijada pública seja algo tão cultural que até um viaduto, que não lembro agora, estava com sua estrutura comprometida de tanta urina que levava.

Hoje mulher nem tem vergonha de chegar atrás de um carro, levantar a saia, baixar a calçola e molhar o sapato, pois todo mundo sabe que o mijar delas é sem direção certa.
 
Falar alto nos restaurantes é uma prática antiga. O vizinho ao lado ouve toda conversa do casal, desde o pedido do prato até a discussão de relação. “Benhê, posso pedir lagosta?”

- Cê ta maluca! Não viu que já gastei este mês uma grana danada com seu relaxamento capilar, corte e chapinha e ainda tive de emprestar dinheiro para o malandro do seu irmão que só vai lá em casa mexer na geladeira, beber, comer, arrotar e peidar e ainda solta um barro que entope o vaso?

 - Então pra que saímos pra jantar se não posso comer o que quero. Deixe de ser miserável. Pra comer feijão com arroz, bife e salada eu ficava em casa.
 
- É melhor pedir uma coisa mais em conta senão nem motel vai ter.
 
- Hum! Até parece. Quanto tempo faz que você não me procura? Minha mãe acha até que você tem mulher na rua.

- Sua mãe é uma... oi deixa lá que ela está mesmo gagá.
 
 E tome beber e regurgitar, tirar o sapato e subir o bafo, a mulher limpando embaixo da unha com a ponta do garfo, ele tirando cera do ouvido com o dedo mindinho e cheirando, os cotovelos sobre a mesa e para completar, quando o pedido chega, pega o guardanapo, passa no prato como se não confiasse na lavada feita pela casa e depois deixa um talher cair no chão com todo barulho. Pode acreditar que é cena clássica.
 
E nos bancos, clínicas, lojas onde você está sendo atendido pelo recepcionista e alguém chega: “Por favor, queria só uma informação...” e entra em sua frente como se você fosse invisível. A mesma coisa na fila do cinema. O cara já chega ao shopping atrasado com a namorada, estaciona na vaga dos idosos, chega esboforido e quer passar na frente da fila, compra o ingresso, entra e fica quietinho até a hora que escurece e o filme começa e daí tome falar pelos cotovelos, como se estivesse na sala de casa. Se a senhora reclama, ouve desaforo.
 
Pior é quando a parceira ou o parceiro é ruim da inteligência e o outro passa explicando cena por cena o filme todo. E no final ainda tem a pergunta: “Já acabou”. Quando a luz acende tem saco de pipoca amassado no chão, milho pela poltrona e copo de refrigerante melando tudo. Será que esta situação mudaria por decreto? Difícil. É de lascar o toba (lá nele).