Jolivaldo Freitas

O mundo está perdido

 Vamos falar a verdade, o mundo está cada vez mais rumando para o caos. Não se trata do caos universal, gerido pelas leis transcendentais muito menos.

É que estão ocorrendo fatos que fogem à mínima lógica e faz com que eu abra os jornais, veja a TV e ouça as rádios ou entre na internet para achar que estou sofrendo daquela doença que dá no ouvido, como é mesmo o nome... labirintite (palavra mais complicada que esta só litotripsia - que nada tem a ver com trepar, mas sim bombardear o cálculo renal, coisa que entendo, hoje, mais que dar uma, de tanta pedra que cultivo no rim). Vou contar as maluquices que me deixam zonzo.


 O mais famoso cirurgião cardíaco do Brasil e dos mais respeitados no mundo sofreu, ontem, pasme, um infarto. Suas artérias estavam entupidas e ele teve de colocar um stent para desobstruir. Então eu pergunto e pareço chato: será que é a velha filosofia do “faça o que digo, mas não faça o que faço”?

O homem não sabia auscultar o próprio peito? Não podia olhar na telha do computador o ultrassom? Não podia fazer exames periódicos para ver como estavam as enzimas? Em minha opinião cardiologista pode morrer de tudo. De erisipela a espinhela caída, passando por costipiu e morte matada. Nunca de morte morrida do coração. Já vou correr pro meu médico que não sou besta e ainda sou influenciável.
 
 Tenho um amigo, Hamilton, que é gênio da informática, inteligente, culto, cheio de informação e sabe e ainda debate o fato do cigarro ser a pior das drogas. O pai morreu de câncer no pulmão. A mãe morreu de câncer no pulmão. Ele fuma tanto que já perdeu um pulmão, mas continua fumando e se queixando. Fuma quatro maços por dia. Eu disse que ele, pelo menos um minuto na vida, deixasse que o ar puro entrasse. Ele me respondeu que estava tão acostumado com a fumaça que se entrasse oxigênio podia ter um treco. Está certo!
 
 Meu amigo Ademir Bonfim da Motta, grande especialista na arte do receptivo, lá na Linha Verde, certa vez viajou para um sítio no interior da Bahia, longe de tudo e de todos, mas era viciado em fumaça de óleo diesel.

Na primeira tarde naquele lugar bucólico cercado de árvores frondosas me disse: - Rapaz, não nasci para ar puro. Estou tendo dificuldade de respirar! Mandei ele tomar naquele lugar, mas os dias que passamos por lá foi de queixa. Até o canto dos pássaros incomodava o homem que queria ouvir barulho de motor de carro.
 
 Soube que ontem o pessoal da Marcha da Agricultura Familiar e Reforma Agrária invadiu de novo o prédio da Secretaria da Agricultura, no CAB reivindicando além da garantia da reforma agrária e melhoria nos assentamentos a criação de uma Secretaria da Agricultura Familiar.

Todos eles comem da agricultura familiar e vendem a produção da agricultura familiar, me diz um técnico da área. Dizem que está faltando comida. O governo não diz mas gostaria de mandá-los plantar e colher, ao invés de engarrafar o trânsito na Paralela. Acho que as lutas sociais são justas e tem mesmo que reivindicar Mas, neste caso quem tem razão? 
 
 Então lá estava eu num famoso e badalado restaurante – convidado é claro – e ouço quando o famoso chef de cozinha se queixa que estava com uma azia braba, permanentemente. Deu vontade dizer que ele diminuísse o extrato de tomate, a pimenta do reino, o cominho e o Ajinomoto das suas receitas. Não falei e comi pouco. Aí fico tonto e com a sensação ora de esquizofrenia e ora de labirintite. “Tá tudo muito doido/Oba!”, gritou Raul Seixas.