Jolivaldo Freitas

Mata o veio!

 Muita coisa que conto em minhas crônicas e outras bobagens acontecem ou chegam para meu conhecimento da forma mais absurda possível e tem gente que pensa que sou mentiroso, embora seja gostoso mesmo contar umas culhudas, umas mentiras, de preferência cabeluda, pois mentira pequena todo mundo desconfia e questiona. Quanto maior a mentira, mais crível ela fica, como aquela de que a CPI do Cachoeira vai punir deputados, senadores e governadores. É mentira, claro, mas a maioria acredita.


 Não é que eu estava no elevador do Edifício Oxumaré, que abre a porta e leva tanto tempo para fechar que dá para tomar uma fresca no corredor, voltar e ainda esperar um pouco mais, quando entra um senhor de certa idade bufando de ódio e como eu estava sozinho, nem precisou escolher para contar da sua revolta. Estava passando pela Ladeira de São Bento e um vendedor de óleo de coco de carnaúba (para quem não sabe está na moda) em pleno microfone virou para ele e anunciou:
 
- Aí meu tio! Estou vendo que o senhor anda meio desanimado com aquilo de bom da vida. Compre o óleo de coco e sua senhora virá me agradecer. O senhor vai ficar de novo com a moral em cima!
 
 O velho já estava virado no Satanás porque não conseguira o empréstimo que foi buscar num destes bancos que fazem consignação de aposentados e para piorar seu aparelho de medir a pressão sistólica e assistólica (só usei os termos por boçalidade, para insinuar que entendo até de Medicina) e a oficina estava fechada. A loja mudou de lugar. Foi pra mais longe. Eu disse ao aposentado que:

1-     Não ligasse para o mascate que vendia o azeite de coco, pois se via que ele estava em forma, por seu andar célere e determinado e que a sua mulher, com certeza, andava sorrindo de felicidade.
 
Ele me perguntou se eu conhecia, por acaso a mulher dele, que estava desconfiado que eu a conhecia, pois como eu sabia que ela só fazia rir de qualquer coisa e me garantiu que já tinha me visto lá pelas bandas da sua casa no Tororó e que se fosse homem respondesse logo, e ele se disse arrependido de ter casado com uma mulher trinta anos mais nova (daí eu calculei que ela devia ter uns 28 anos); e na maior cara de pau perguntei se ele tinha uma foto dela, pois sei que os mais velhos têm a mania de carregar  foto de mulher, filho e neto em carteira e não é que ele me mostrou uma gaza de enlouquecer e quando se deu conta da besteira ameaçou me bater e voltou a perguntar se eu realmente não a conhecia.
 
2 – Eu disse que ele se acalmasse, pois estava misturando tudo e que daquele jeito, com o seu medidor quebrado, ele poderia estar tendo um pique de pressão e poderia ter um piripaque ali, na hora.
 
  O velho me encarou e perguntou se eu era médico ou metido a doutor e já ia me dizer umas leras boas, uns dichotes e uma querelas a mais quando o elevador chegou no andar onde eu ia e saí. Ainda ouvi ele gritar, esperando a demorada porta do elevador fechar, que eu não me metesse com ele. E que com certeza já tinha me visto no Tororó. 
 
- Minha memória é boa, viu sua miséria! – gritou como um maluco.
 Depois de meia hora desci e fui para a rua e quando passo em plena ladeira de São Bento, na esquina, está o vendedor mercando seu óleo de coco de carnaúba mágico e vejo o velho ranzinza recebendo o troco da compra do produto. Não resisti, bati no seu ombro e disse apenas:
 
- Aí hem meu velho? E saí quase que correndo com medo da sua reação. Foi quando ouvi o vendedor do milagroso produto gritar para mim: “Meu tio, pelo que estou vendo você também está precisando do meu coco. Notei que você está meio desanimado ou atua muito apressado. Meu produto cura as duas coisas”. O pessoal que passava rindo de mim, que além de ter sido estressado pelo idoso ainda levava fama de brocha ou ejaculador precoce. Nada mais me falta na vida. Acho que vou comprar um oleozinho de coco. Discretamente, claro.