Carlinhos Mecânico está sendo procurado pelos ex-amigos do Pau Miúdo. Ele que não apareça que corre o risco de parar no Cemitério de Quintas e sem direito sequer a colocar a camisa vermelha e preta sobre o caixão. Os seus caçadores estão andando com porretes, garruchas, soco inglês, Fanta, cabo de aço, sal e pimenta.
Antes de mandar a carniça para sepultamento, querem arrancar o coro, amaciar a carne com cacetadas e amolecer os ossos, para depois jogar pimenta, álcool e sal e, se sobrar alguma coisa, passar no moedor de carne. Depois disso feito irão fazer uma macumba que é para a alma dele sequer ir para o purgatório; tem de ir para o inferno sem escala.
Então se pergunta o que o infeliz fez de tão errado que os outrora amigos do peito, quase irmãos e alguns até compadre de batizar filho e pular fogueira na noite de São João se retaram e estão à caça. Não é que Carlinhos pegou o dinheiro de todo mundo e foi comprar ingressos, como primeiro da fila, desde as quatro da manhã no buraco da bilheteria, para a área dos visitantes... Todos torcedores roxos – roxo, não... vermelhos – de paixão pelo Vitória. Estavam decididos a enfrentar a massa tricolor na unha, dente, chute nas partes, beliscão e dedada no toba se preciso fosse.
Começaram a beber e comemorar logo depois da primeira partida, pois o empate não tinha feito jus para o time em pleno Barradão, e, claro, o rubro-negro ia dar uma enfiada no Bahia em pleno Estádio de Pituaçu e calar a boca dos adversários que iriam completar assim 12 anos sem ganhar um campeonato.
Tudo ia bem e Carlinhos Mecânico anunciou no início da manhã que tinha conseguido ingressos para todos, que passassem a ferro as bandeiras, colocassem as camisas ao sol para tirar o futum do sovaco – lavar nem pensar que dava azar – e já botassem a cerveja para gelar. Estava voltando com os preciosos bilhetes. Comprara cada um a 30 reais.
Tudo ia bem e Carlinhos Mecânico anunciou no início da manhã que tinha conseguido ingressos para todos, que passassem a ferro as bandeiras, colocassem as camisas ao sol para tirar o futum do sovaco – lavar nem pensar que dava azar – e já botassem a cerveja para gelar. Estava voltando com os preciosos bilhetes. Comprara cada um a 30 reais.
Deu meio-dia, quatro da tarde, sábado pela manhã e o pessoal começou a ficar preocupado e ninguém da família sabia do seu paradeiro. Domingo chegou e nada de Carlinhos Mecânico e o povo já tinha procurado em delegacias, no Instituto Médico-Legal, nos rios, nos terrenos baldios e foram ver se o corpo não tinha sido jogado em algum lugar de desova.
“Será que mataram Carlinhos Mecânico para tomar os ingressos?”, era a pergunta, pois todo mundo sabe que torcedor fanático é a miséria e em cambistas não se pode confiar e um deles podia ter atochado Carlinhos Mecânico. A família acendendo velas e fazendo promessas. E até a ex-mulher que o chamava de traste, agora falava bem e só faltava se esvair de tanto choro.
“Será que mataram Carlinhos Mecânico para tomar os ingressos?”, era a pergunta, pois todo mundo sabe que torcedor fanático é a miséria e em cambistas não se pode confiar e um deles podia ter atochado Carlinhos Mecânico. A família acendendo velas e fazendo promessas. E até a ex-mulher que o chamava de traste, agora falava bem e só faltava se esvair de tanto choro.
Ninguém o achou, o jogo começou, o Vitória esteve com a taça na mão; o Bahia tirou. Vitória voltou a ficar na frente, o Bahia que tinha a vantagem do empate volta a empatar. O Vitória põe de novo a mão na taça, o goleiro falha e o Bahia iguala o placar, o jogo termina e a cidade fica em festa, pois todo mundo sabe que tirante torcedor do Ypiranga e do Flamengo, só a torcida do Bahia sabe valorizar uma conquista.
Na segunda-feira, como se nada tivesse acontecido, está lá Carlinhos Mecânico ajeitando o carburador de um Fiat 147 todo enferrujado e ainda com o escudo do Esquadrão de Aço no vidro. Quem viu chamou os outros e Carlinhos Mecânico cercado disse que tinha uma boa notícia.
Como era certeza certa que o Vitória não iria para lugar nenhum, pegara os ingressos que havia comprado a 30 paus e vendera uns por 50, outros por 100 e até alguns por 200 reais. Dividindo por 20 o lucro para cada um ficaria em 150 reais. Como ele tivera a ideia, ficaria com mais.
Como era certeza certa que o Vitória não iria para lugar nenhum, pegara os ingressos que havia comprado a 30 paus e vendera uns por 50, outros por 100 e até alguns por 200 reais. Dividindo por 20 o lucro para cada um ficaria em 150 reais. Como ele tivera a ideia, ficaria com mais.
João de Zequinha já foi puxando pelo macacão: “Carlinhos Mecânico, todos nós queríamos ver o jogo e não fazer negócio”. Américo Bufão acusou: “será que não foi por isso que o Vitória perdeu, Carlinhos Mecânico?” e Carlinhos Mecânico, no maior cinismo, disse que o time perdeu, todo mundo ganhou uns trocados e quem quisesse que fosse chorar ao pé do Caboclo no Campo Grande. “Pode ir que o dinheiro dá até para táxi”.
Foi a gota d´água. Se Carlinhos não escapole pulando carro, cerca, pneus e levando o macaco hidráulico pelos peitos não tinha ficado fiapo. Agora todos estão em busca de Carlinhos Mecânico. Como andam em grupo e esqueceram-se de tirar a camisa do Vitória, ainda têm de ouvir pelas ruas:
Foi a gota d´água. Se Carlinhos não escapole pulando carro, cerca, pneus e levando o macaco hidráulico pelos peitos não tinha ficado fiapo. Agora todos estão em busca de Carlinhos Mecânico. Como andam em grupo e esqueceram-se de tirar a camisa do Vitória, ainda têm de ouvir pelas ruas:
- Bora Bahêa!
E Carlinhos Mecânico ainda escafedeu-se levando toda a grana.