Não era mesmo o seu dia de sorte. Ligou para a clínica no Campo Grande só para perguntar se um exame de raios-X simples do abdômen exigia algum procedimento prévio.
A moça do outro lado da linha ao invés de responder sim ou não, passou a inquirir qual o plano, que tipo de plano, se o plano era bom ou peba. “Minha amiga, só me diga sim ou não. Ou a depender do plano faz ou deixa de fazer o procedimento?”, desabafou. Ficou sem resposta.
Ligou para a empresa do plano de saúde. Queria saber se ele dava direito a um médico ir até sua casa para atender um caso de tremilique, pressão, alta, dor de cabeça e espinhela caída – coisa da idade – e foi logo sendo atendida por uma dessas meninas de telemarketing que não gostam de ser incomodas na hora em que estão lixando as unhas ou falando mal da colega que saiu para almoçar.
Já ficara irritado quando o serviço de atendimento eletrônico começou a orientar que discasse 2 para aquilo; 3 aquilo outro. Para falar com alguém de carne e osso bastava ligar nove e se o burro não entendeu que voltasse ao menu.
- Bom dia – disse, e a moça sem responder perguntou “o que deseja senhor?”
- Queria saber se meu plano dá direito a atendimento residencial?
- Claro que seu plano não oferece este quesito – respondeu a telemarketingueira já destilando mau humor.
Ele contemporizando: - Calma. Não precisa brigar!
- Não estou brigando senhor. O senhor deseja mais alguma coisa?
- Meu plano oferece o quê?
- Se o senhor que fez o contrato não sabe, como vou saber?
- Mas você não tem na tela as informações?
- Olha senhor, não posso fazer nada pelo senhor.
- Você é uma grossa e incompetente – já foi dizendo irritado.
- O senhor é que não sabe nada e ainda incomoda. Vá cuidar do seu sistema que está nervoso – retrucou a telemarketingueira, e antes de desligar ainda perguntou:
- Senhor, o senhor deseja mais alguma coisa?
Quando ele ia dizer na lata o que desejava ela desligou na cara. Foi até melhor, pois as ligações, segundo a informação eletrônica, são gravadas. Falando com outra menina, que provavelmente já tinha cuidado das unhas e fofocado acerca das colegas e decidira trabalhar, conseguiu descobrir que seu plano tinha direito a um atendimento de emergência pelo fone. Ligou e foi atendido desta vez por um telemarketingueiro que levou uma vida fazendo perguntas, e quando o segurado achava que ia ser atendido o rapaz pediu dez minutos para que o médico ligasse de volta.
- Meu caro, isso aí está pior que atendimento no INSS – desabafou quando o rapaz desligou.
Tempos depois, liga o médico da emergência 24 horas e pergunta o que está sentindo e ele diz que a pressão está em 18 por 12 e tem dor de cabeça bem forte.
O médico perguntou o que ele tomara e disse que remédio para dor de cabeça e um para a pressão, mas que não baixara. O médico pelo telefone deu os parabéns, pois agira certo, recomendou que tivesse paciência que a dor ia passar e a pressão baixar: - Aguarde umas quatro horas e se não resolver me ligue de volta.
O médico perguntou o que ele tomara e disse que remédio para dor de cabeça e um para a pressão, mas que não baixara. O médico pelo telefone deu os parabéns, pois agira certo, recomendou que tivesse paciência que a dor ia passar e a pressão baixar: - Aguarde umas quatro horas e se não resolver me ligue de volta.
- O senhor aceita ligação a cobrar do cemitério? – Desistiu e foi para a fila do INSS que era mais ágil que o da seguradora, fazendo o sinal da cruz.