Opinião

Cláudio Veiga, uma referência Cultural da Bahia

Mal havia sido empossado na Academia de Letras da Bahia, o Acadêmico Aramis Ribeiro Costa teve que proferir a oração de despedida ao Colega, Acadêmico Cláudio de Andrade Veiga que, durante vinte e seis anos, dirigiu os destinos da Casa de Arlindo Fragoso, cuja medalha de Benemérito lhe foi entregue um dia após a despedida do Acadêmico Edivaldo Boaventura e posse do novo presidente.

Cláudio Veiga nasceu em Salvador a 28 de maio de 1927, filho de Cláudio Mota da Veiga e Otávia de Andrade Veiga.

Tinha um temperamento introvertido, tímido, silencioso e discreto. Muito sóbrio, não era apreciador de eventos sociais, antes preferindo o aconchego do lar e a reclusão em sua biblioteca particular.
Jamais o vi rindo, muito menos dando uma gargalhada.

Sorria apenas, matreiramente, envolvido pelo manto suave da interdição com o qual resguardava suas emoções mais intensas. Nem mesmo diante da dor, da decepção, expunha a sua tristeza ou desapontamento.

Aprecio a convivência com personalidades distintas, com temperamentos díspares, com pessoas que internalizam emoções para se proteger da exposição. Ao mesmo tempo, aprecio os afoitos, os destemidos, os que são capazes de inverter a ordem das coisas e alterá-las a favor da humanidade. Jamais em seu próprio proveito.

Nas suas frequentes visitas à Casa da Bahia, onde Prof. Cláudio comparecia toda vez que necessitava vir à cidade, passava na minha sala, no Instituto Histórico, para um dedo de prosa.

Nessas oportunidades, deixava escapar os seus sentimentos, num diálogo em que eu mais escutava do que intervinha. Não vacilava nos relatos da infância e mocidade vividas no bairro da Lapinha, na formação recebida no Seminário Episcopal da Bahia, bem assim da sua presença na Faculdade de Filosofia.

Comentava, sempre em tom discreto, os concursos realizados no Colégio da Bahia, as bancas examinadoras que o avaliaram no Central e na Ufba, enfim, sua vida como aluno e professor. O Instituto de Letras, após a Reforma Universitária, passou a constituir-se no Instituto de Letras, mais tarde dirigido pelo Professor Veiga.

Revelou-me que seu encaminhamento para a docência de Língua e Literatura Francesas ocorrera em função de interesses da direção da Faculdade. Beneficiou-se, contudo, louvando a circunstância de que, ao ser lente de francês, tradutor e Professor Titular da disciplina, do belo idioma de Pascal. Autor, aliás, da sua preferência literária, sobre o qual escreveu: “Das pequenas cartas de Pascal”(1959) e “Aspecto de Pascal escritor” , do mesmo ano.

Artífice das letras era um homem culto, amante da literatura e da Cultura de modo geral, sendo escritor, ensaísta e tradutor de poemas franceses.

Eleito para a Academia de Letras da Bahia a 3 de novembro de 1977, tomou posse em 18 de maio de 1978, no salão nobre da Academia, na cadeira número 9, sendo saudado pelo Acadêmico Hélio Gomes Simões de reconhecida oralidade.

Substituiu o Acadêmico Antônio Luís Machado Neto, eleito em 10 de agosto de 1972, empossado no ano seguinte. Curiosamente, nas Revistas da ALB, só existe o discurso do empossado, não sendo encontrado o do recipiendário, que costumava falar de improviso. A oração de Cláudio Veiga é uma bela lição de humildade, de cultura e de agradecimento e louvação aos seus antecessores: Antônio Ferreira França, João Alfredo de Campos, Edgard Ribeiro Sanches e o já mencionado Machado Neto. Ao concluir seu discurso, Cláudio Veiga menciona o fato de ser o primeiro aluno do Instituto de Letras da Ufba a ingressar naquele sodalício, se encontrando na ALB o seu primeiro diretor, Hélio Simões.

Integrado ao setor de Letras Românicas, ao estudo do francês, que completou com estudos na Sorbonne, versou sobre temas relacionados com a Cultura Brasileira, especialmente, Vieira, “O Imperador da Língua Portuguesa”, conforme o denominou Fernando Pessoa. Autor de inúmeros livros escreveu, entre outros, os seguintes: “Castro Alves Guia da Catedral (1966); “Um brasileiro soldado de Napoleão”, “Atravessando um século: a vida de Altamirando Requião“(1993), Gramática Nova do Francês (1965).

Cláudio Veiga teve um casamento feliz ao lado de Mary Coelho Veiga, falecida há alguns anos, também diplomada em Letras, tendo os filhos: Francisco Eugênio, Fátima, Teresa, Cláudio, Paulo e André.

Cláudio Veiga é um nome de ressonância vigorosa nas letras baianas, uma referência no campo da cultura, tendo pertencido ao Conselho de Cultura do Estado da Bahia, durante várias administrações governamentais.
O Professor e Acadêmico passa a ser uma ausência nas Letras e na Cultura Baiana, na qual pontificou como um dos mais ilustrados e dignos filhos da terra.