Criada em 1999 por uma rede de sex shops britânica, a iniciativa buscava promover discussões abertas sobre o tema e aumentar a conscientização sobre os benefícios do prazer sexual na vida cotidiana.
Originalmente tratado como um tabu, tanto o orgasmo feminino quanto o masculino foram objeto de estudos pioneiros que começaram a revelar seus múltiplos benefícios físicos e emocionais.
Segundo explica Julianna Santos, educadora sexual e coordenadora do Guia de Sex Shop, esses estudos foram libertadores pois, além de identificarem o que é um orgasmo, também contribuíram para que conhecêssemos que o clímax é só parte de uma experiência humana mais completa sobre a relação sexual.
No século XIX e início do século XX, as teorias de Sigmund Freud sobre a sexualidade humana, apesar de controversas, abriram caminho para futuras pesquisas. Estudos iniciais sobre a fisiologia do orgasmo eram frequentemente limitados pelos preconceitos sociais e científicos da época.
Nos meados do século XX, pesquisas de Alfred Kinsey documentaram a diversidade das experiências sexuais humanas. No entanto, foi o estudo revolucionário de Masters e Johnson, nos anos 1960, que realmente mapeou a resposta sexual humana, destacando a importância do orgasmo para a saúde sexual.
Do final do século XX até o presente, avanços na neurociência e psicologia revelaram benefícios do orgasmo como a liberação de endorfinas, redução do estresse e fortalecimento do sistema imunológico.
Estudos contemporâneos continuam a explorar a conexão entre prazer sexual e bem-estar mental e emocional, fornecendo uma base científica robusta para a importância do orgasmo na saúde geral.
Esse interesse da ciência pelo tema ainda persiste, pois ainda são altas as taxas de mulheres que não conseguem atingir um orgasmo. No Brasil, um estudo da Universidade de São Paulo (USP) indicou que 55% das mulheres brasileiras não atingem o orgasmo durante a relação sexual.
De 5 a 10% das mulheres nunca tiveram orgasmo, sendo que 59% admitiram já ter fingido. Os dados também mostraram que 18,4% das mulheres atingem o orgasmo durante o sexo apenas com a penetração vaginal, enquanto 81,6% não alcançam o clímax se não houver estímulos e preliminares. Além disso, 95% dos homens geralmente, ou sempre, têm orgasmo durante a atividade sexual, em comparação com apenas 65% das mulheres.
Produtos sensuais
O ciclo de resposta sexual humana, descrito por Masters e Johnson, compreende quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução. A fase do desejo só foi descrita por Helen Kaplan em 1977, e corresponde à vontade de estabelecer uma relação sexual, a partir de algum estímulo sensorial (audição, visão, olfato etc.), assim como pela memória de vivências eróticas e de fantasias.
Depois dessa descoberta, a indústria de produtos adultos se especializou em desenvolver produtos sensuais que desempenham um papel crucial em cada etapa deste ciclo, proporcionando estímulos que facilitam e intensificam o prazer sexual, já que o bom desempenho de todas as fases culminam em um orgasmo mais prazeroso e potente.
“Antes de falarmos mais detalhadamente sobre o papel de cada tipo de produto na facilitação do ciclo de resposta sexual, é preciso entender que o produto por si não faz milagres. A falta do autoconhecimento, a ansiedade, o medo, a insegurança e uma conexão sexual deficiente com o parceiro são as causas mais comuns na maioria dos casos da dificuldade de se atingir um orgasmo", avisa Julianna.
Ela aconselha que o melhor a fazer nesses casos é que, antes de inserir um produto novo na relação, se conheça antes como o corpo reage a ele de forma solitária, para só depois propor o uso em casal. “E isso exigirá um diálogo com a parceria. O que pode ser também um grande avanço no relacionamento sobre a exposição clara sobre os desejos, fantasias e necessidades de uma cumplicidade maior na exploração dos prazeres com consensualidade e comprometimento”.
A primeira fase da resposta sexual, por exemplo, acontece muito antes, no desejo. Para criar aquela vontade de ter uma relação mais íntima ou seduzir a parceria é preciso despertar os sentidos. Aqui, um perfume com feromônio, as lingeries, fantasias eróticas, a ambientação sensual e até mesmo um spray para os lábios com ativos vibrantes são capazes de liberar a mente e o corpo para um momento erótico.
Na segunda fase, a excitação, óleos para massagem irão promover um toque mais instigante, os lubrificantes podem aumentam o conforto e facilitar a estimulação, e os vibradores e estimuladores clitorianos aceleram a excitação com estímulos diretos e intensos.
Durante a fase de platô, os anéis penianos ajudam a manter a ereção e intensificam as sensações, enquanto géis e cremes excitantes prolongam essa fase aumentando a sensibilidade.
Na fase de orgasmo, dildos e estimuladores internos proporcionam estímulos profundos e direcionados, facilitando o alcance do clímax. Produtos de estimulação do ponto G e ponto P (próstata) também desempenham um papel fundamental, intensificando o prazer em zonas erógenas específicas.
Finalmente, na fase de resolução, massagens e produtos de relaxamento promovem a transição pós-orgasmo, ajudando a relaxar e aliviar a tensão muscular, além de tratar as mucosas genitais, preservando a saúde íntima.
Julianna alerta que em alguns casos, o tão sonhado orgasmo pode não vir mesmo com essas dicas. “Quando há disfunções sexuais mais sérias que podem ser resultado de condições de saúde mental e física que podem estar abaladas, o melhor é buscar o auxílio de um terapeuta sexual.”
Preliminares
Segundo Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana); as preliminares são particularmente essenciais para as mulheres.
“Se levarmos em conta que na masturbação a mulher demora, em média, 8 minutos para chegar ao orgasmo, enquanto no sexo a dois o tempo sobe para cerca de 14 minutos, fica fácil entender a importância de preparar corpo e mente para a relação sexual”.
Entretanto, a terapeuta lembra que preliminares não são apenas sobre prazer. “Trata-se também de criar um senso de conexão e intimidade entre os parceiros, o que é fundamental para uma relação saudável e longeva”, diz a especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).
Claudia desmistifica 5 tabus acerca das preliminares, que tanto penalizam o prazer sexual feminino.
O homem se importa com o orgasmo da mulher?
Verdade: de acordo com a sexóloga, os homens são frequentemente estereotipados como amantes narcisistas e egocêntricos, concentrados principalmente em seu próprio prazer e pouco interessados na experiência de suas parceiras.
“Em contraste, quando pesquisados, os homens dizem que uma das coisas que mais os excitam é justamente perceber o prazer que eles estão proporcionando às suas parceiras”.
Um estudo publicado na Archives of Sexual Behavior, por exemplo, constatou que os homens relataram sentimentos de confiança, realização e segurança ao imaginar suas parceiras alcançando o orgasmo durante a relação sexual com eles, ao invés de atingi-lo com a ajuda de um vibrador.
As preliminares começam no ato sexual?
Mito: segundo Claudia Petry, promover a excitação é um exercício de criatividade que pode ser feito a qualquer hora. Ao longo do dia, o casal pode praticar o ‘sexting’, trocando mensagens de texto e fotos insinuantes.
“Quando estiverem juntos, esbanje sensualidade. Aposte em contatos visuais provocantes, beijos quentes e inesperados, looks sexies, carícias pelo corpo (por cima ou por baixo da roupa) e qualquer outra coisa que desperte o desejo em ambos”, aconselha a terapeuta.
Mulheres homossexuais também precisam de preliminares?
Verdade: assim como em todas as formas de sexo, as preliminares são igualmente importantes para as homossexuais. “Claro que o prazer sexual é mais compreendido e flui melhor entre duas mulheres, mas, ainda assim, são duas pessoas diferentes, que podem ter gostos e interesses específicos”.
Como exemplo, Petry cita a ‘tribbing’, uma prática sexual comum entre mulheres homossexuais. “Ela consiste na fricção da região genital nas coxas ou nos quadris da parceira. Entretanto, diferente do que se pensa, não é toda mulher que sente prazer com a técnica. Daí a importância de investir nas preliminares e, para além do clitóris, descobrir os pontos chave da companheira”.
Preliminares precisam acontecer em todas as relações sexuais?
Mito: segundo Claudia, cada mulher possui sua própria resposta sexual, influenciada por fatores hormonais, externos e emocionais. “Nem sempre a mulher está disposta a grandes performances. Muitas vezes, as ‘rapidinhas’ são mais práticas e dão conta do recado”.
No entanto, a especialista alerta para que isso não se torne uma constante. “O risco é grande de o casal se acomodar e não perceber que as relações sexuais estão caindo na rotina. E essa é uma das armadilhas mais silenciosas que resultam no afastamento do casal”.
As preliminares não significam a mesma coisa para todo mundo?
Verdade: o que vale para uma pessoa pode não ter o mesmo efeito para outra. Essa é uma oportunidade de falar sobre preferências, desejos e necessidades que podem ou não ser atendidos. Aqui, a flexibilidade se torna um diferencial para que os dois encontrem um meio-termo que funcione mutuamente.
“Experimentem diferentes formas de estimulação e descubram o que traz mais prazer para ambos. Ademais, mantenham a comunicação, já que o sexo é uma experiência complexa e cíclica, e os interesses sexuais podem mudar com o tempo”.