Palco

Espetáculo 'Tântrica Santina' ganha versões em audiovisual

Projeto inclui lives, bate-papos e lançamento de filme inédito

Foto: Demian Reis
Teatro
Tântrica Santina - Cena do Filme

Após transitar por diferentes palcos do país, a peça "Tântrica Santina forjada em sangue a sorte imaculada e um homem morto" chega ao espaço virtual em formatos diversos que exploram o diálogo entre o teatro e o audiovisual. Com texto e direção de Thor Vaz, o solo leva à cena a atriz Rita Rocha em uma realização da Cia Oceano de Artes Integradas.

O projeto tem início nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro, às 18h, quando serão lançados os três atos da peça, em uma versão intitulada "livre espetáculo live", seguida de bate-papo com os artistas envolvidos. Já em 27 de março, 18h, acontece o lançamento do filme inédito, versão da obra concebida e realizada especialmente para o formato audiovisual. Toda a programação é gratuita e transmitida pelo Youtube (www.bit.ly/ritarocha).

Não é apenas o longo título que torna a peça "Tântrica Santina forjada em sangue a sorte imaculada e um homem morto" incomum. Enquanto a maior parte dos textos teatrais só chega aos livros após experiência no teatro, a obra fez o caminho inverso.

Escrita por Thor Vaz em 2011, foi publicada em 2016 pela editora Jaguatirica e só ganhou sua primeira versão nos palcos em 2019. De lá pra cá, a peça realizou duas temporadas no Rio de Janeiro, participou do Festival Satyrianas, em São Paulo, e teve a sua última temporada em março de 2020, em Salvador, interrompida pela pandemia.

Em cena, a atriz Rita Rocha vive uma mulher em estado de delírio, atormentada por lembranças que por vezes parecem alucinações. A personagem compartilha as dores e decepções causadas por amantes cruéis e tenta se livrar da culpa pela morte do seu marido.

Embora a obra não deixe clara uma definição de tempo e espaço, a personagem revela forte ligação com a igreja católica, uma relação de temor e adoração, mas não esconde sua postura insurgente contra costumes e tradições.

"A gente não sabe em que tempo ela está inserida, apesar de notar um linguajar e referências de séculos passados. Mas, como ela permanece num estado de latência, a gente não pode ter certeza. Ela não é uma testemunha confiável. Até os fatos que ela narra sobre ela própria a gente não tem como saber se são verdade, mentira, ou se são fantasias", comenta Thor Vaz.

Para o autor e diretor, o componente rítmico foi fundamental desde o processo da escrita, característica depois ressaltada pela trilha sonora da peça, assinada por Leopoldo Vaz Eustáquio.

"O que fui percebendo enquanto escrevia é que o texto seguia uma linha rítmica que também se traduzia na dramaturgia enquanto sentimento, enquanto agilidade da personagem, euforia. Os sentimentos estavam ligados a essa ritmicidade", complementa o dramaturgo.

Ponto de vista feminino

Para a construção da personagem, a atriz Rita Rocha teve também ao seu lado duas artistas, a assistente de direção Alhandra dos Santos e a preparadora de elenco Ilona Wirth, que ressaltaram a necessidade de olhar a protagonista a partir de um ponto de vista feminino. "Veio a importância de não julgar a personagem.

Ela é considerada uma louca mas eu não devo chamá-la de louca. E também entender todas as marcações do ponto de vista do corpo de uma mulher executando-as. Em vários momentos uso o abdome, a voz de baixo ventre, exploramos a ideia de luz, sombra, dentro, fora. Trabalhando com uma mulher você entende de onde tirar essa energia", conta a atriz.

Ao longo do processo de criação, atriz e diretor levantaram como referências diversas personagens femininas consideradas loucas pela sociedade, recorrentes na literatura e no cinema. "Pra mim essa é a história de uma mulher que tem a alma tântrica e o corpo santino, e esses lados fazem as pazes.

A alma e o corpo fazem as pazes e ela se reencontra consigo mesma", comenta Rita Rocha, que também associa o trajeto da personagem às diferentes etapas de um processo de depressão.

 "É um lugar que você chega, esse lugar que não existe, esse vazio que seria tão dentro de você, que por isso é indefinido. Essa personagem tá nesse fundo do poço, mas no fundo do poço tem uma mola. Cada vez que ela chega mais fundo ela consegue renascer mais forte", complementa.

Do palco à tela

Nas temporadas presenciais do espetáculo, o público era convocado a dar um passo além da passividade de quem costuma assistir, caminhando ao redor da cena por um trajeto especialmente preparado pela produção.

Os movimentos circulares feitos pelos espectadores consolidavam uma proposta de encenação instauradora de um ritual meditativo, coletivo, que aprofundava gradualmente os estágios de consciência da atriz, da personagem e do público até permitir a entrada em um modo alternativo de contemplação.

O desafio de transpor "Tântrica Santina" do teatro ao audiovisual reside também em manter o caráter sensorial da obra, construída como uma sinfonia rítmica, minimalista e progressiva. Outra novidade é a distância entre os integrantes da equipe, que irão criar e se comunicar remotamente, respeitando o isolamento social.

"Nesse contexto de pandemia, o meu controle criativo sobre a obra cai muito. Preparei um documento, um roteiro muito bem detalhado, mas não vou estar presente, in loco, com a equipe. Então esse trabalho vai ser muito mais colaborativo. Isso é muito interessante também", conta Thor Vaz.

Nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro, 18h, além de assistir aos três atos da peça na versão "livre espetáculo live", o público poderá interagir com a equipe criativa do espetáculo em três bate-papos com a atriz Rita Rocha acompanhada de Alhandra dos Santos (26), Ilona Wirth (27) e Thor Vaz (28). Um mês depois, em 27 de março, também às 18h, acontece o lançamento do filme, uma versão inédita e especialmente adaptada para o formato audiovisual.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

SERVIÇO:

TÂNTRICA SANTINA FORJADA EM SANGUE A SORTE IMACULADA E UM HOMEM MORTO
Toda a programação é gratuita e transmitida pelo Youtube: bit.ly/ritarocha

26 de fevereiro, sexta, 18h
"Livre espetáculo live" Ato I
Bate-papo com Rita Rocha e Alhandra dos Santos

27 de fevereiro, sábado, 18h
"Livre espetáculo live" Ato 2
Bate-papo com Rita Rocha e Ilona Wirth

28 de fevereiro, domingo, 18h
"Livre espetáculo live" Ato 3
Bate-papo com Rita Rocha e Thor Vaz

27 de março, sábado, 18h
Lançamento do filme