Educação / Política

Falta de acesso à internet incentiva a evasão escolar no Brasil

73% dos professores pretendem usar mais tecnologia em sala de aula

Foto: Julia M Cameron/Pexels/Creative Commons
A falta de internet impede os alunos de acompanhar aulas remotas

A universalização do acesso à internet para escolas, professores e alunos é essencial para enfrentar o ano letivo de 2021, que terá continuidade do ensino híbrido por conta da pandemia do coronavírus e precisará recuperar conteúdos que foram prejudicados em 2020.

Essa foi uma das conclusões do grupo de especialistas que participou, nesta segunda-feira (23), de debate sobre o projeto de lei (PL 3477/20) que prevê a garantia dos serviços de internet de qualidade a estudantes da escola pública. A proposta determina que o dinheiro para essa política pública venha do Fust.

Mediador do debate, o deputado Professor Israel Batista (PV-DF) levou dados de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que corroboram a necessidade de universalização da internet na rede pública de ensino. Cerca de 5,8 milhões de estudantes não têm acesso à rede mundial de computadores.

“Quando a gente fala de internet no meio rural, o acesso é muito limitado. Quando a gente fala de estudantes de baixa renda, a gente vê uma dificuldade de equipamentos, porque as famílias dividem o mesmo equipamento entre os pais e as crianças, os estudantes da casa. Então isso nos deixa nessa emergência para dar um tratamento para esse assunto”, afirmou.

Relatora do projeto em discussão na Câmara, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) acrescentou estatísticas do instituto Data Favela: quase 50% dos alunos que moram em comunidades não estão conseguindo acompanhar as aulas remotas e mais da metade deles pensa em abandonar os estudos por causa disso.

Para a representante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, se as escolas das áreas periféricas não acompanharem o desenvolvimento da tecnologia, a evasão vai aumentar.

“Se o Estado não chega, se a educação não chega, se a conectividade não chega — para o estudante da periferia, principalmente —, quem chega antes é a violência, o tráfico, a violência policial e tantas outras coisas que fazem com que esse estudante perca a perspectiva de estudar, perca a perspectiva de futuro, de transformar a sua vida e a de sua família através do acesso à educação”, apontou.

Durante o debate, um internauta questionou se a universalização da internet não seria uma utopia, já que existem escolas públicas onde a estrutura física é precária. A presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cecilia Motta, lembrou que muitas lutas do setor eram utópicas e foram alcançadas. Ela reiterou que momentos como guerras e pandemias, em geral, são propícios para grandes mudanças.

“Essa pandemia trouxe, primeiro, o diálogo; decisões conjuntas e um momento novo na metodologia de trabalho nosso, dos professores. ”

Especialistas como Nelson Simões, da plataforma digital Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), concordam que fazer uma internet de qualidade chegar às escolas públicas brasileiras não é tarefa simples.

“É preciso pensar no conteúdo digital para os alunos, é preciso pensar na videocolaboração para os alunos em tempo real e o futuro vai trazer muitas outras experiências que não substituem essa conexão essencial que está um pouco perdida, que é a conexão entre o aluno e o mestre.”

Segundo a representante da Fundação Lemann na discussão, Cristieni Castilhos, em uma pesquisa com professores, 73% deles disseram que pretendem usar mais tecnologia em sala de aula, mas que, para isso, é imprescindível conectar escolas, professores e alunos.