Jolivaldo Freitas

Os problemas da cidade e os pirados

Ando pela cidade vendo assombrações. Juro que outro dia vi o Guarda Pelé – lembra dele, do tempo que existia Guarda de Trânsito orientando o tráfego nas principais artérias da cidade, principalmente na Avenida Sete de Setembro, Rua chile e Baixa dos Sapateiros?
 
O Guarda Pelé era um show de bola. Ele parava no meio do trânsito “pesado” e com gestual de quem está dançando ou fazendo um balé, puxava do apito e dava seu espetáculo. Muitas das vezes o trânsito engarrafava por que os motoristas e os pedestres paravam para apreciar o mise-en-scène, único em todo o mundo (anos depois um policial inglês o copiou, até nos trejeitos,nas ruas de Londres e ficou mais famoso).

Pior é que outro dia, andando perto da Igreja de Nossa Senhora Santana (aliás acho que fez certo o padre que colocou arame farpado na entrada da igreja para evitar ter de lavar coco todo dia, catar seringa e lavar o mijo dos sacizeiros – sem falar que padre pegando em Camisa de Vênus é coisa do Satanás, ou não é?), tenho certeza que vi Madame Beatriz saindo da casa onde morava antes de ir desta para sempre.

Dizem que Madame Beatriz já morrendo perguntou ao médico se tinha chegado a hora dele e ele teria resp0ndido, malcriadamente:

- Não sei. A senhora não é de ver o passado, presente e futuro?

Madame Beatriz parece que morreu de raiva. Falar em vidente, interessante o caso do cartomante que foi participar do BBB14 e não viu nas cartas que era melhor não ter ido. Foi o primeiro a sair via Paredão. Ele ainda disse que não esperava ter saído tão cedo; mas não sabia ler o futuro na carta?...

Foi andando e vendo assombrações que em encontrei Zau, um amigo que pensava ter ido destas para outras, andando rápido e falando sozinho. Mesmo com medo de ser assombração peguei no braço dele para verificar que era um ser vivente e senti um calafrio quando percebi que sua pele estava gelado. Mas, como não acredito mesmo em assombração insisti e ele virou e me deu um abraço, dizendo que estava frio era do susto que tinha passado.

Vinha andando no Campo da Pólvora quando um ônibus em velocidade fez a curvadefronte ao Fórum Ruy Barbosa, subiu o passeio e passou perto. Se não tivesse pulado, aí sim ,tinha ido para o purgatório. Purgatório por acharque nada fez de mal que justificasse o inferno ou de bom que desse passagem direta para o céu.

Aproveitou para desabafar e dizer que a cidade está cheia de problemas e passou a enumerar: falta de troco nos ônibus, jovens que tomam o lugar dos idosos nos buzus fingindo que estão dormindo, atendimento péssimo nos bancos - onde inventaram a Fila Preferencial mas só colocam apenas um caixa - e aí os idosos demoram mais tempos para serem atendidos.

Nas praias fica difícil tomar uma cerveja ou chupar um picolé pois estão com preços exorbitantes.“Imagine que me cobraram 15 reais por um guarda-sol”, disse retado da vida.Ele se queixa dos engarrafamentos permanentes na Avenida Paralela e do fato da Transalvador ter mudado todo o trânsito na Barra e permitir estacionamento nas laterais da rua João Pondé. "Basta vir um carro de um lado e outro em sentido contrário que engarrafa tudo. Tem briga todo dia”:

- Você que é jornalista e diz saber de tudo, tem aí o telefone do secretário José Carlos Aleluia? Vou falar para ele que é preciso alguém ordenar a João Pondé ou vai ter sangue.

Eu disse que não exagerasse e que não tinha o fone do secretário, pois ele nunca me deu a ousadia de tê-lo e ele foi embora, sem antes me alertar:

- Não caia na besteira de ir no Porto da Barra aos domingos pois você será assaltado. Evite as ruas laterais do Pelourinho, onde só tem sacizeiro. Não passe pela Passarela do Iguatemi depois de meia-noite. Não entre em nenhuma agência da Caixa, Bradesco ou Banco do Brasil. Evite andar pelo Comércio e não pare em restaurante na Pituba e nem deixe seu carro estacionado no Costa Azul. Não vá na Avenida Sete. Cuidado com os assaltos na Avenida Contorno. Evite o Aeroporto 2 de julho. Não ande nas dunas do Abaeté. Nem pense em ir na Feira do Curtume que é sujeira pura. Corra das meninas que ficam à noite na rua Carlos Gomes.

E depois de ter ido embora, dizendo que tinha pressa de chegar em casa antes que ela fosse arrombada em Ipitange, ainda gritou:

- Não caia na besteira de tomar banho de mar na Ribeira e cuidado com a cabeça quando passar embaixo das marquises do Centro.

Pensei: o cara pirou. Graças a Deus ele tinha ido. Eu já estava ficando mais neurótico do que sou. Vou tomar um banho de folha. Desconjuro!