Jolivaldo Freitas

Seleção brasileira, Copa, Pelourinho revivido e Wagner

Os comerciantes formais e informais do Pelourinho estão numa tristeza só. Faltando coisa de um mês para a Copa das Confederações, não sabem de nenhuma programação especial ou uma atitude de macho por parte do governo estadual e da administração municipal para atrair o turista de fora do país e os nativos de dentro do país e principalmente para mantê-los na cidade e assim garantir que pelo menos sejam vendidos uns bibelôs, um punhado de balangandãs e meia dúzia de berimbau.

As lojas estão praticamente vazias. Com isso, está acontecendo um ciclo vicioso: como não tem turista para comprar, o comerciante limita suas compras ao necessariamente básico. De repente aparece um turista que nada compra porque queria mais do que o basilar. Não tem, se pica e vai falando mal da Bahia. Já não bastam as notícias de violência que fazem com que nossa cidade tenha dos piores índices do Brasil e dos mais preocupantes do mundo e ainda o comércio fica defasado.

Como os comerciantes não compram, os artesãos e cooperativas que produzem o artesanato baiano também param de oferecer os seus produtos. O que se vê hoje é muita renda vinda do Ceará, Pernambuco e Sergipe (e pensar que tínhamos grandes rendeiras no Recôncavo e que os cearenses na verdade copiaram o que era nosso e hoje fazem mais e melhores). Vou dar uma dica: a fitinha do Senhor do Bonfim, aquela que chamamos de “medida” e que serve para os ambulantes torrarem o saco dos turistas no Pelourinho, Farol da Barra e Igreja do Bonfim são feitas, em sua maioria, em São Paulo. E não é mais de pano. É de material sintético. Aliás, o que dificulta a realização dos pedidos, pois demora mais para apodrecer a cair do braço, momento em que o rogo foi aceito.

Se o turista quiser levar de lembrança uma baiana – digo as bonequinhas e não as periguetes que ficam no Porto da Barra e no Terreiro de Jesus caçando gringo –, compram gato por lebre. Não somente as bonequinhas “baianas” não estão sendo produzidas na Bahia, como muitos dos produtos vêm da China, Paraguai e Coreia. Olhe nos olhos das “baianas” e você vai ver que elas têm um olhar oriental. Olhos redondos.

Tudo bem que na Bahia tudo é miscigenação: polaco com baiana, índio com negra, negro com branca, cafusa com mameluco, mameluco com francesa, árabe com índia, e até negro com negro e branco com branco. Sem falar que o filho baiano da chinesa do Porto da Barra, que casou com um negão sarado, está namorando a filha baiana do italiano do restaurante da rua Marques de Leão que casou com uma sarará miolo. O DNA deve estar pulando mais que pipoca. Mas é bom, e isso só aqui.

Falar em mistura, fale a verdade. Você acredita mesmo que a seleção que Scolari apresentou ontem vai ganhar alguma coisa na Copa das Confederações. Os jogadores só são melhores que os do Bahia, o que é até covardia comparar, pois até o pessoal do baba lá do campinho do MontSerrat é melhor. Se o Bahia encarar perde de 8 a 3.

Falar em Bahia, o governador baiano Jacques Wagner passou a ganhar minha admiração. Antes eu só gostava da mulher dele, aquele monumento à baianidade e à amalgamação que citei anteriormente. Depois da sua entrevista à revista Veja, em que ele foi retado, republicano, democrático e principalmente senhor de si, virou meu amigo de infância. Está mais maduro e consciente da sua importância histórica. Parece até que é baiano de verdade. São os milagres do Senhor do Bonfim, que só não conseguiu ainda é tirar comerciante do sufoco no Pelourinho. Mas, também, eles vendendo fitinha de caprolactama lá do Polo Petroquímico não tem santo que ajude.