Três notícias chamaram minha atenção, ontem. A primeira foi o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, contrariadíssimo por ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal a dez anos e mais não sei quanto foi lá de multa. Ele considera uma injustiça. Em sua visão o Mensalão não foi nada demais. Uma coisinha boba, como roubar uma galinha na encruzilhada e ainda levar a farofa e a garrafa de Pitu. Ainda existe a aguardente Pitu? Responda aí você que é cachaceiro e a senhora que gosta de tomar um goro escondido!
Outro caso instigante foi o irmão de José Genoíno, que assinou todos os documentos pára empréstimos fraudulentos, segundo o procurador-geral da União e aceito pelo relator do Mensalão, que disse que nem ele vendendo a casa onde mora em São Paulo pode pagar a multa de mais de quatrocentos mil reais a que foi condenado. Então: onde está toda a grana que rolou a rodo e a solta e ainda sobrou uma merrecas de milhão dentro da cueca do parente dele?
Por último fiquei até penalizado, pois como se não bastasse a execração pública que Dirceu, Marcos Valério, José Genoíno e até certo ponto Lula, que só anda onde os companheiros se encontram, não desviando um centímetro do caminho para não receber apupo, agora ficaram sabendo que condenados não receberão o privilégio de celas especiais. Vão ter de conviver com a verdadeira malandragem.
Aí está o meu medo, pois quando o governo militar saiu prendendo o pessoal da esquerda, durante o período da ditadura, colocaram os presos políticos junto com a bandidagem. Foi um erro. Os meliantes aprenderam com a galera que combatia a ditadura a se organizar, a pensar e a agir com inteligência e viu o que se vê.
Com relação aos mensaleiros, meu medo é que eles ensinem mais malandragem aos presos comuns e a partir daí ninguém segura mais a bandidagem no Brasil. Vai ser a fome com a vontade de comer.
Foi então que lembrei que numa pequena cidade do Recôncavo baiano, certa feita, fui passar umas férias escolares a mando do meu pai, pois eu estava muito desobediente a ia mal, muito mal na escola. Era férias, mas também para aprender a me comportar.
O interessante é que a família que me recebeu não tinha preparado o lugar para eu ficar e enquanto tudo era feito fui para o trabalho do chefe da família que era subdelegado. Já cheguei aprontando e o homem sem nenhuma psicologia decidiu que eu iria ficar numa cela aberta, esperando a hora de ir para casa.
Ele esquecera que na cela já estava um bêbado que fora acusado de roubar uma galinha de macumba. Foi preso já com a penosa assada e tomando a cachaça do despacho. Para aprender iria passar o dia e a noite na cadeia. Fui chegando e ele me olhou do alto da sua bebedeira e perguntou se eu era algum filho de santo e antes que eu o respondesse me disse que já que eu era parente das divindades queria pedir perdão. Fez questão dizer que já passara melhor em outros bozós.
Não entendi nada. Quando o subdelegado foi me buscar para levar para casa o bêbado quase caindo se lamentou dizendo que ia ficar ali sozinho; que era uma injustiça não ter um rádio para ouvir música. O sub=delegado respondeu que daquele jeito só faltava pedir cortina, um colchão de molas e um travesseiro confortável. No que o bêbado respondeu que não era uma má idéia e que se não fosse assim servido iria embora.
A autoridade deu de ombros. À noite já na casa do subdelegado o bêbado aparece e diz que saiu da cela – que não tinha cadeado – sem ninguém ver e que estava ali para pegar o travesseiro de algodão. Não estava conseguindo dormir direito.