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José Ataíde. A voz do rádio esportivo

O Brasil é o país do futebol e a bola a nação de José Ataíde, um dos mais vibrantes locutores esportivos da Bahia. Diariamente ele dá “bom-dia” pra redonda no seu programa na Rádio Metrópole, apresentado de segunda à sexta, das 6h30 às 7h30. O hábito de falar ao microfone chega aos 60 anos e o reconhecimento do talento para comandar uma resenha esportiva é das torcidas que ao longo dessas décadas souberam identificar facilmente, através das ondas do rádio, a voz possante e firme deste ícone da comunicação baiana.

Entretanto, apesar da intimidade com o mundo da bola, José Ataíde, 76, já não narra mais os grandes clássicos do campeonato baiano de futebol. “Há mais ou menos uns dez anos, eu, com medo da violência que já imperava naquela época, resolvi abandonar as transmissões esportivas. Mas nunca disse a alguém que jamais voltaria a narrar. Apenas é uma questão de oportunidade. Na verdade, se aparecer algum tipo de convite, principalmente na Rádio Metrópole onde estou agora, eu teria que me poupar. Narrar somente os grandes jogos, um tempo... De sorte que, me acho ainda em situação de narrar. Como já tem certo tempo, não sei como é que seria essa narração, de que jeito...”, diz demonstrando uma grande vontade de voltar a fazer a alegria do torcedor, narrando gols como sempre fez, e reconhecendo que existe no mercado “grandes profissionais, cada qual com o seu estilo”.

“Chamá-lo de mestre seria muito pouco diante de uma frase, que ele, Ataíde, sempre usou diante dos microfones: Se Deus é por nós, quem será contra nós?. José Ataíde sempre foi um verdadeiro discípulo do Mestre. E o seu aprendizado serviu de exemplo para muitos daqueles que são verdadeiros seguidores da arte de fazer o bem sem olhar a quem. Como profissional atuou, atua e atuará sempre na memória daqueles que se conduzem como verdadeiros profissionais do rádio esportivo baiano. Aprendi muita coisa ao passar na sua verdadeira escola de comunicação. E a principal delas foi a honestidade de princípios, de ação e ética na profissão”, diz um desses profissionais  e também amigo do José Ataíde, o locutor esportivo Sílvio Mendes.

Motoristas de táxi, médicos, profissionais liberais, ouvintes admiradores do estilo inconfundível de José Ataíde, certamente aguardam o dia em que o locutor que marcou uma época no rádio baiano retornará à narrativa esportiva. Enquanto isso não acontece, Zé, como é chamado pelos amigos mais próximos, segue tocando o “Bom-Dia Bola” na Metrópole FM e dedicando-se à sua nova ferramenta de comunicação: o site www.joséataíde.com.br, onde é possível o internauta conhecer a história do futebol através de raridades em áudios e vídeos, um pouco mais da trajetória profissional do locutor, ler comentários, e ficar atualizado com o universo da pelota.

Nascido no dia 15 de março de 1934, filho do farmacêutico Péricles de Andrade Costa e da professora primária Maria Amélia de Ataíde Costa, natural de Santa Inês, com oito dias de vida José Ataíde seguiu com a família para Santo Antônio de Jesus e, depois, ainda criança, para Mata de São João, onde viveu até a adolescência com os irmãos Raimundo, Denise, Antônio Carlos e Alfredo Péricles.

Título deve ficar entre o bahia e o vitória

Com a experiência de quem já acompanhou diversas fases do campeonato baiano de futebol, trabalhando em várias emissoras da cidade, José Ataíde, não tem dúvida que, mais uma vez, a disputa do título estadual poderá ser com mais um BA & VI. “Eu gostaria que voltasse aquela época que não só Bahia e Vitória, mas o meu Galícia, o Ipiranga, o Botafogo, Leônico, também tinham oportunidade. Mas, pelo andar da carruagem, Bahia, Vitória, Camaçari e Bahia de Feira, um dos quatro poderá ser campeão, com mais probabilidade da decisão ficar entre tricolores e rubro-negros”, comentou o radialista que já trabalhou em várias rádios e fez dezenas de viagens internacionais, apesar de continuar com medo de avião.  

Se no âmbito regional José Ataíde é um torcedor confesso do Galícia, no plano nacional a paixão é pelo rubro negro carioca. “Vivo intensamente o dia a dia do Flamengo, não só no futebol, mas no basquete, voleibol, natação, todos os esportes ligados ao meu clube do coração”, diz orgulhosamente. Com uma memória capaz de lembrar a escalação de vários times regionais e nacionais de décadas distantes, Ataíde diz que “qualquer homenagem que alguém queira me prestar, que prestasse com vida”. Uma boa forma de homenageá-lo, segundo o próprio, seria os anunciantes da Bahia patrocinar o seu programa na Metrópole, onde estreou no dia 5 de Abril e pretende ficar por muito tempo. “Seria uma grande homenagem e eu ficaria contentíssimo”, confirma externando um largo sorriso.

José Ataíde desembarcou em Salvador de calça curta e, ainda garoto, costumava ficar no chuveiro repetindo “PRG 2, Tupi Rio de Janeiro. “Na época não tinha televisão e a gente só podia acompanhar o futebol pela Rádio Nacional ou Tupi. “Aí meus pais sempre diziam: Esse menino vai dá pra rádio e realmente aconteceu”. Ataíde recordou esta fase da vida  imitando em seguida o jeito inconfundível que tinha de narrar Jorge Cury, um dos mais famosos locutores esportivos do Rio de Janeiro, aonde o locutor baiano chegou a fazer um teste transmitindo o jogo América e Palmeiras, mas, mesmo aprovado, retornou 48 horas depois para Salvador, onde os patrocinadores da época reclamavam da sua ausência nas ondas do rádio baiano.

Feliz por ter criado quatro filhos vivendo exclusivamente do microfone, o radialista e jornalista José Ataíde revela que gostaria de fazer televisão, uma experiência que seria inédita numa carreira tão brilhante de comunicador. “Até hoje nunca pintou um convite. Estou aberto para conversações’, avisa. Frequentador do Shopping Barra, amante de uma quiabada e de um chopinho “de vez em quando”, Ataíde segue levando a vida em movimento e rejeitando o calor e qualquer sinal de falsidade. Fiel as tradições, não abre mão de ouvir um bolero, um tango ou um samba canção. Gosta de dançar, “mas não sou bom dançarino”, afirma rindo mais uma vez e lançando o olhar pela janela do seu confortável apartamento situado no bairro do Rio Vermelho.

 A política José Ataíde acompanha “para saber como é que ela anda e vai muito mal, por que as pessoas prometem as coisas e não cumprem e há muita corrupção. Gostaria que o Serra fosse eleito pra não haver o continuísmo, embora saiba que é muito difícil."