Há nos a Bahia não assistia a um caso tão hediondo quanto o do garoto Márcio Souza, 2 anos e 7 meses de idade, torturado pelo padrasto com a ajuda de duas cúmplices e diante do extremo da ignorância e da maldade populares, espetado para a morte com 30 agulhas. O caso, de repercussão internacional no The Independent e The Guardian, de Londres; no The Whashington Times, AP e rede CBS, nos Estados Unidos; e em milhares de publicações no Brasil passou a ser conhecido como “O Menino das Agulhas”.
Numa primeira instância imaginava-se algo da ficção científica como foi Edward Scissorhands (Edward Mãos-de-Tesoura) o filme que tanto sucesso fez na década de 1990, dirigido por Tim Burton e com roteiro baseado em história de Caroline Thompson no gênero terror e fantasia, de um jovem criado por um inventor maluco e que é ajudado por uma vendedora de cosméticos, pródigo em manipular as mãos em cortes de cabelos, amado por uns e odiado por outros.
“O Menino das Agulhas” também tinha um enredo de fantasia, até a primeira vista pensou-se em algo assim, de um garoto “prodígio” que engolia agulhas no bairro Alto do Fundão de Ibotirama, tal o solitário Edward do castelo mal-assombrado, até que foram apresentados os seus torturadores, gente pobre, semi-alfabetizada, crentes de seitas macabras e que põem até nesse envolvimento uma provável “mãe-de-santo”, como se o povo de santo, em sua essência na vida religiosa do candomblé, praticasse esse tipo de asnice.
É bom que se diga, logo, que não há nenhuma relação entre “seitas macabras”, “bruxarias”, “experiências malucas” e outros com o culto ao candomblé que é uma religião, coisa séria e que merece todo respeito, embora, se saiba, aqui e acolá, que ainda existem alguns malandros e malandras se utilizando dessas práticas para enganar a população. Não é a regra e sim exceções, mas, muito longe de algo como o que se registrou em Ibotirama com o “Menino das Agulhas”.
Em Salvador, no ano de 1977, aconteceu um desses casos, o mais grave até hoje registrado na história da Bahia, quando José Maurino Carvalho e Maria Nilza Oliveira Pessoa foram considerados os mentores do assassinato de 8 crianças na praia de Stella Maris, no episódio conhecido como “Matota e Marata”. Esses dois assassinos eram líderes da “Igreja Universal Assembleia dos Santos” e esta maluca seita pregava o abandono de “obrigações mundanas” como o casamento civil e o voto. Ao ser preso, Maurino disse que Jesus havia ordenado as mortes.
No mundo o caso mais escabroso foi registrado na Guiana, em 1978, caso “Jim Jones”, o pastor do “Templo do Povo” que levou aproximadamente 900 pessoas ao suicídio. Uma loucura total. Jim Jones tinha um grupo de guardas-costas armados que eram chamados de “anjos”. Não esses anjinhos de igreja, supostamente do céu. Os “anjos” de Jim Jones eram do Demo.
Na RMS há uma proliferação de seitas de toda natureza. Recentemente, difunde-se um culto a Jesus sem a menor responsabilidade com os preceitos religiosos cristãos. Vê-se, com frequência, em veículos dizeres de toda ordem em nome de Jesus, como se Cristo pagasse prestação de veículos ou fosse responsável pelo comportamento dos cidadãos no trânsito. A Barra assistiu, no domingo passado, a uma Marcha para Jesus, muitas das pessoas completamente fora de si, anestesiadas, assumindo posturas que estão distantes dos ensinamentos do Evangeliário.
No reverso da moeda, no caso do “Menino das Agulhas”, registre a atuação dos médicos do serviço público e da ação da SESAB, da equipe de profissionais da UFBA que se utiliza das práticas médicas mais contemporâneas para salvar a vida do garoto com extrema responsabilidade, em debates e encontros conjuntos, num exemplo de integração e dedicação à medicina e a saúde pública.