Opinião

As balanças da economia brasileira

O contexto mundial deve prosseguir quase imprevisível ao longo do ano

Foto: Piabay/Creative Commons

A tendência para considerar a alta do dólar como decorrente de fatores da conjuntura brasileira, não corresponde à realidade. De fato, a alta da moeda norte-americana é, neste momento, elemento global e decorre da remuneração no mercado estadunidense, por sua vez, ligada à política monetária da Reserva Federal norte-americana (Banco Central). Assim, o dólar, ainda há cerca de um mês cotado a 1,08 em relação ao Euro, tem estado, desde a semana passada, a 1,06.

O Real só escaparia de sentir esse efeito se tivesse as reservas da China ou se importasse muito menos componentes e inputs, indispensáveis a diversos ramos produtivos ou de serviços.

O contexto mundial deve prosseguir quase imprevisível ao longo do ano, conforme intuições desde o FMI até entidades não governamentais da área econômica. Com dois carimbos maiores: as oscilações perigosas da inflação e o prosseguimento de guerras importantes, com outras na fila de espera.

Sobre a inflação – e as consequentes taxas de juro – há mais otimismo relativo no Banco Central Europeu que no seu homologo dos Estados Unidos.  Nestes termos, o crescimento do PIB norte-americano, anualizado no primeiro trimestre em 1,6%, é visto com alívio. Da mesma forma são consideradas as previsões chinesas.

Portanto, estamos em fase de “menos mal” ou “menos pior que previsto”.

Resistir nesse quadro, evitando inflação acima dos 3,5% e crescimento do PIB abaixo de 1,5%, implica desempenho em expansão do agro-industrial, melhorar o eixo de equilíbrio da Selic e produzir, pelo menos, parte dos inputs importados. Neste âmbito, a recente entrevista do ministro das Minas e Energia, muito focada na orientação dos lucros da Petrobras, teve um detalhe pouco citado, mas importante, sobretudo se corresponder a política tecnológica geral. Foi o anúncio de que se trabalha no progresso das baterias, produto essencial para aprimorar desempenhos na autonomia de extensa variedade de produtos.  

Ao mesmo tempo, há duas urgências incontornáveis:

- manter os programas de ampla assistência social e isenções fiscais para salários baixos, na medida em que a recuperação do mercado de trabalho deve prosseguir no ritmo atual. O presente contexto de salários baixos na maior parte da população e juros altos, só é um pouco minimizado graças ao parcelamento de compras, crédito de sobrevivência no curto prazo. A grande interrogação sobre o suportável na economia nacional, está na definição de salário baixo também no curto prazo? Dois ou três mínimos?

- a situação político-militar mundial aconselha reforço de meios nas prioridades estratégicas definidas a nível militar: Amazônia e Atlântico Sul. Focos de conflito são muito possíveis a norte da fronteira com extensão ao Caribe e, a turbulência armada no Mar Vermelho, desvia largamente a navegação  para o Atlântico Sul, onde são cada vez mais prováveis  ações jihadistas nas margens do Golfo da Guiné.

Se fosse apenas operação matemática de receita-despesa, a estabilidade da balança seria relativamente mais simples. Mas não é. É balança de imperativos econômicos de 2024 sem comprometer 2025 e sobrevivência social e de segurança.

Não há economia sem riscos, nem crescimento sem iniciativas em setores de irradiação.

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Jonuel Gonçalves é pesquisador associado no NEA/INEST da UFF (Niterói),ex-professor visitante da Uneb (Salvador) e está à frente do Blog do Jonuel.