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Europa critica papa Francisco por pedir à Ucrânia que negocie a paz

As declarações do papa foram dadas à emissora estatal suíça RSI

Foto: Instagram | Reprodução

Papa Francisco

O pedido do papa Francisco para a Ucrânia ter "coragem de negociar" a paz com a Rússia segue repercutindo na Europa, em meio à relutância de Kiev em seguir os conselhos do pontífice.

"A paz está nas mãos de Putin. Nós queremos uma paz justa, que leve em consideração a vítima dessa guerra, ou seja, a Ucrânia", declarou um porta-voz do Serviço de Ação Externa da União Europeia nesta segunda-feira (11), ao ser questionado sobre as palavras do líder católico.

Já o porta-voz do governo da Alemanha, Steffen Hebestreit, disse que o chanceler Olaf Scholz "não está de acordo com o Papa neste tema". "A Ucrânia está se defendendo de um agressor, e nós, assim como outros países, a apoiamos nesse esforço", acrescentou.

 As declarações de Francisco foram dadas em entrevista à emissora estatal suíça RSI, a quem o pontífice afirmou que é preciso ter "coragem de levantar a bandeira branca e negociar" quando as coisas "não caminham bem".

"Você tem vergonha, mas vai esperar quantas mortes? Não tenham vergonha de negociar antes que a coisa piore", salientou o líder católico, fazendo a ressalva de que conversar "nunca é uma rendição".

Em resposta, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse no domingo (10) que a verdadeira Igreja está "protegendo a vida e a humanidade, ao lado das pessoas, e não em algum lugar a 2,5 mil quilômetros, mediando virtualmente entre alguém que deseja viver e alguém que deseja te destruir" - 2,5 mil km é a distância entre Kiev e o Vaticano.

"Os assassinos e torturadores russos não se deslocam pela Europa somente porque são contidos pelos ucranianos sob a bandeira azul e amarelo", ressaltou o mandatário.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, afirmou nesta segunda que o apelo do Papa por uma solução negociada é "bastante compreensível", mas foi "rechaçado de forma severa por parte do regime de Kiev". 

Biden também critica

O governo dos Estados Unidos afirmou nesta segunda-feira que o presidente Joe Biden tem "grande respeito" pelo papa Francisco, mas acredita que a paz na Ucrânia depende da Rússia.

O posicionamento chega dois dias depois da divulgação de uma entrevista na qual o pontífice afirma que Kiev precisa ter "coragem de levantar a bandeira branca e negociar" com Moscou e pergunta "quantas mortes" serão necessárias antes de os dois lados se sentarem para conversar.

"O presidente Biden tem grande respeito pelo papa Francisco e se une a ele nas orações pela paz na Ucrânia, que poderia ser alcançada se a Rússia decidisse colocar fim a essa guerra injusta e retirasse suas tropas do território soberano da Ucrânia", disse à ANSA um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

"Infelizmente, continuamos não vendo nenhum sinal de que Moscou queira colocar fim a essa guerra, e por isso estamos empenhados em apoiar Kiev em sua defesa contra a agressão russa", acrescentou.