Mundo

Negociações travam e cessar-fogo na Faixa de Gaza fica mais distante

Yahyia Sinwar, líder do Hamas em Gaza, não tem pressa para chegar a um acordo

As negociações retrocederam. As linhas gerais obtidas em Paris e em Doha, no Catar, parecem ter se perdido entre tantas declarações. O Hamas busca simplificar a sua posição ao afirmar que o atraso está na conta de Israel. Mas é preciso examinar o que o grupo palestino quer dizer com isso.

Para o Hamas, chegar a um acordo é relativamente “simples”; para isso, basta que Israel aceite as suas exigências: cessar-fogo “permanente”, retirada das tropas de Gaza, retorno da população palestina do sul para o norte do território e a reconstrução do que foi destruído. Aqui há um problema de comunicação. Não se sabe se proposital ou não.

Sem entrar no mérito dos itens apresentados pelo Hamas, o ponto fundamental é o seguinte: o esboço obtido nas negociações chegou a outras conclusões. E todas as partes consideravam este esboço o ponto de partida para o cessar-fogo de seis semanas. O Hamas apresenta novas demandas. É como retornar ao ponto inicial faltando apenas cinco dias para o início do Ramadã.

E aqui é possível aplicar duas linhas de interpretação: ou o Hamas não se comunicou com os mediadores do Egito e do Catar – que falam diretamente com as lideranças do grupo – ou este é o seu jogo. Quer dizer, talvez a ideia seja justamente a de aguardar o Ramadã e buscar outros objetivos durante este período, a chamada “convergência de arenas”, o pior cenário possível no momento de maior sensibilidade religiosa.

Desde o 7 de Outubro, o objetivo do Hamas é insuflar a região de forma a levá-la a um conflito mais amplo. Este objetivo foi alcançado parcialmente, mas durante o Ramadã este potencial é ainda maior. Inserir o elemento religioso tendo como ponto central a Mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém pode ter consequências dramáticas. É difícil cravar que este é o objetivo do grupo, mas não é impossível fazer esta conexão.

Ao longo dos anos, o Hamas tem buscado se reafirmar diante do público palestino como o “guardião de Jerusalém”. Os elementos mais extremistas do jogo político israelense têm facilitado o trabalho, aumentando o tom nacionalista com marchas pelos bairros árabes da cidade. No centro dessa disputa está o local conhecido como Monte do Templo (pelos judeus) ou Esplanada das Mesquitas/Nobre Santuário (pelos muçulmanos), alvo frequente dos discursos e da incitação de Itamar Ben Gvir.

Segundo o Wall Street Journal, Yahyia Sinwar, líder do Hamas em Gaza, não tem pressa para chegar a um acordo. Talvez ele queira esperar o que pode acontecer nos primeiros dias de Ramadã. Até porque, por mais que o Hamas já tenha usado Jerusalém como fator simbólico durante um conflito (em 2021, por exemplo), isso nunca aconteceu no contexto de uma guerra que já dura cinco meses e que polarizou parte importante da opinião pública mundial.

Ao mesmo tempo, Israel nunca esteve tão isolado na comunidade internacional. E a cada dia em que a guerra continua, o isolamento aumenta. Todos esses elementos podem explicar as razões que levam Sinwar a não ter pressa.