Onde o rio nasce
Gabriel Nicholls
Em Barra da Estiva, na Fazenda do Brejão, o primeiro olho d’água do Rio Paraguaçu surge. Protegido pela natureza, lá está o início desse rio tão significativo para a Bahia. Para chegar até a nascente é preciso caminhar por uma mata muito densa. O percurso é longo e difícil. É como se a vegetação estivesse protegendo aquela nascente da ganância do homem.
Ainda pequeno, já demonstra sua força. A água surge pulsante do solo. A chuva que molha a terra passa boa parte do ano fazendo brotar vários olhos d’água. Aos poucos, pequenos fios vão se unindo e começam a ganhar ainda mais força ao se encontrarem com outras nascentes ao longo do caminho. Tímida, a primeira cascata aparece diante dos olhos. Atravessar de um lado a outro não exige muito esforço. Logo mais a frente, outros rios se incorporam ao Paraguaçu, que até então, com sua pequenez, poderia se chamar Rio Lobo ou Rio Santo Antônio, seus principais afluente.
Em Barra da Estiva, onde também nasce a Chapada Diamantina, vive Admo Marcelo da Conceição, secretário de Turismo, que veio do sudeste do Brasil para trabalhar na área de mineração. Admo comprou a fazenda onde fica a nascente do Paraguaçu. Nessa época, o minerador se uniu a um movimento ecológico. “Tivemos a ideia de criar a ONG Gema, grupo que cuida da preservação e da qualidade das águas. Éramos famosos por preservar a natureza e o rio”, disse Admo.
Admo se tornou o guardião da nascente. E junto com o grupo GEMA limpou toda a região, devolvendo a vida ao berço do Paraguaçu. “Desse período pra cá eu comprei e deixei aqui essa nascente, o café que tinha a gente tirou e deixou a natureza se recompor. Durante 15 anos ficou aqui até 2017 como minha propriedade”, comentou o secretário. Ele precisava vender a Fazenda do Brejão. Nessa mesma época conheceu Danielle Vilar, ambientalista, que propôs uma parceria com ele para cuidar das nascentes. Danielle indicou Edson Barbosa, para quem vendeu.
Admo Marcelo continua trabalhando junto a ambientalista na proteção daquelas águas. “A fonte da vida é a água sem a água ninguém sobrevive”, afirmou Admo. Com essa parceria ao lado de Danielle, nasceu em novembro de 2017 o Instituto Nascentes do Paraguaçu (INP) que saiu do papel e foi fundada no mês de março de 2018. Atualmente, Danielle Villar é presidente do Instituto e Admo é o secretário desse projeto.
A presidente do Instituto se mostrou bastante preocupada com o futuro daquelas águas, para Danielle o agronegócio vem desmatando parte da região de Mucugê e Barra da Estiva, por causa da irrigação exagerada e também dos enormes pivôs (círculos de plantações) nas margens do rio. Para fazer esses pivôs, retiram a mata ciliar. A água que cai na terra se espraia e não segue o seu curso natural, secando córregos e deixando terras inférteis.
Embora o agronegócio seja firme e gera muitos empregos, o uso excessivo de água para irrigação acaba causando a seca de muitos córregos. Existem nesse lugar cerca de 80 mil hectares de pivôs. Marozan Souza, trabalha em uma fazenda de café há 18 anos na região. Lá as plantações são em forma de pivô, “a gente tem 5 pivôs e tem uma área de gotejo, fazemos a fertirrigação, as vezes aduba e para absorver o adubo tem que molhar.”
Assim como uma parcela do agronegócio prejudica o meio ambiente, muitos da agricultura familiar também não tem cuidado algum com a natureza. O agronegócio não é em sua totalidade o vilão, existem agricultores que utilizam desses círculos de maneira mais ecológica. As pessoas envolvidas com esse tipo de agricultura se preocupam com a preservação da natureza, usando tecnologias sustentáveis e que não agridem o meio ambiente.
Jair Galera, é um pequeno agricultor que trabalha no cultivo do morango e usa tecnologias sustentáveis, mas acabou sendo prejudicado pela seca de um dos afluentes do Rio Paraguaçu (rio Capozinho), sendo obrigado a abrir um poço artesiano. Mas como ele mesmo disse, muitos pequenos agricultores abrem esses poços sem nenhum controle, podendo levar o lençol freático a secar.
Além da agricultura em Mucugê é muito comum o garimpo de diamante. Joab Rocha, é um guia e filho de garimpeiro que tenta com seu trabalho resgatar as histórias percorrendo os caminhos que durante muitos anos foram abertos pelo garimpo. Alguns desses caminhos levam ao Rio Paraguaçu. É preciso caminhar cerca de três quilômetros por uma estrada de chão e passar por muitos obstáculos até encontrar o rio.
Toda a região que antes era tomada pelo garimpo virou reserva do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Mas ainda, mesmo que difícil, é possível ver alguns garimpeiros que fazem o trabalho artesanal. Eles utilizam bateia (recipiente utilizado para busca de pedras preciosas), enxada e a alavanca.
Seguimos nosso caminho pelo rio em busca das pedras preciosas do Paraguaçu até chegar ao nosso próximo destino, Igatu, a Vila de Pedras pertencente a cidade de Andaraí.