Cinema / Televisão

Confira indicação de filmes que falam de paternidade

E conheça a história de Capitão Fantástico

Foto: Divulgação
Capitão Fantástico

Já escrevi aqui em um outro texto sobre as mães no cinema. Naquele momento, eu opinei que, com a paternidade, os filmes sempre mostravam uma jornada dos homens para se enxergarem como pais e, também, os sacrifícios e escolhas desse caminho.  

Faz sentido, uma vez que mãe e filhos vivenciam uma ligação biológica e mágica desde a concepção. Ao pai, cabe a construção desse elo e quando isso vai ou não acontecer.

Essa jornada é muito cinematográfica, e o cinema, claro, é um retrato da vida real e isso é explorado nos filmes. “Em Busca da Felicidade” (Netflix), “Procurando Nemo” (Disney Plus), “Uma Lição de Amor” (HBO Max), “A Vida é Bela”, “Peixe Grande” (HBO Max), “Uma Babá Quase Perfeita” (Disney Plus), “Dois Filhos de Francisco” (Globoplay), “O Quarto do Filho” e tantos outros exemplos que mostram o caminho desses que se veem numa situação de autoconhecimento e de luta pelo amor ou pela segurança dos filhos.

Um dos meus preferidos é “Capitão Fantástico” (disponível na Netflix). Filme de 2006, dirigido e escrito por Matt Ross, conta um recorte da história de Ben (Vigo Mortensen, ótimo como sempre) e seus seis filhos, que vivem numa floresta isolados dos centros urbanos.  Essa escolha de vida de criação e educação dos filhos foi de Ben e da sua esposa, com a intenção de criá-los com a capacidade de se relacionar com a natureza, de ter visão crítica e política de mundo e de alcançarem o máximo da sua capacidade física e intelectual.   

E funcionou, os filhos desse casal atingiram uma maturidade excepcional. E o nosso protagonista não é daqueles que ainda não sabe o papel dele naquela família. Ele não está buscando isso, muito pelo contrário, ele tem certeza de que é o melhor para seus filhos. Ele é rígido, firme, disciplinado, mas também muito amoroso, sensível e disponível. Ele é a figura de autoridade, de carinho e de ensino, de filosofia, música, caça, luta etc.

E é então que a esposa sai de cena e agora Ben precisa ir encarar a civilização juntamente com os filhos. Esse choque de culturas é o ponto alto do filme, que nesse momento se torna um “road movie” (dentro do ônibus “Steve”). Os costumes da cidade são estranhos para aqueles que convivem em harmonia com a natureza e os animais, que tem hábitos de leitura e se alimentam de forma saudável e daquilo que caçam. As observações geradas por esse encontro são muito divertidas. “Pai, o que é coca- cola?”, “Água envenenada”.

Nesse filme não há vilões, se alguém comete algum deslize ou exagera nas ações é por amor e por zelo. O avô das crianças pode ser o personagem que mais se aproxima de um antagonista, mas ainda assim, se nos colocarmos um pouco na pele dele vamos entender que tudo que ele faz tem sentido e é por cuidado com os netos. Os tios que moram na cidade também se opõem à forma de viver daquela família, mas não demora muito para perceber que estão diante de um fenômeno social incrível.

 Mas o grande desafio é esse pai defender as suas ações perante os próprios filhos. Cada um vai apresentar uma característica que vai confrontar aquela filosofia de vida, principalmente o mais velho e o com o mais revoltado pela ausência da mãe (Bo e Rellian, as crianças têm nomes únicos). E aí é que a estrutura desse castelo, construído com tanto esforço, será realmente testada.

“Capitão Fantástico” também nos faz refletir, sempre com um toque de bom humor, sobre educação. Sobre o modelo de ensino que temos hoje nas escolas em geral. Essa reflexão é escancarada na cena em que uma das filhas, de oito anos, expõe um conteúdo, solicitada pelo pai, de forma crítica e inteligente ao passo que os primos bem mais velhos, educados tradicionalmente, mal sabem concluir o que é esse conteúdo. Fica clara a intenção em demonstrar o quanto essa criação mais focada na vida e afastada de costumes modernos fez dessas crianças verdadeiros prodígios.

Nós, pais, não hesitaríamos em nos jogar na frente de uma bala para salvar nossos filhos, qualquer sacrifício é pequeno para garantir a segurança deles. E, no cotidiano, será que o máximo que temos para oferecer é sempre o que os nossos filhos precisam ou querem? Grandes sacrifícios e grandes planos podem não ser o melhor para eles. Construir um verdadeiro Oásis de conhecimento, plenitude física, filosofia e artes pode parecer um ideal para qualquer indivíduo, pode parecer um grande feito para qualquer pai se orgulhar de ter proporcionado para os filhos.

Aqui, vamos acompanhar o esforço de um pai em ser perfeito para as suas crias, em proporcionar o melhor do mundo, na sua própria visão. Vamos presenciar também a busca do equilíbrio e a capacidade de olhar para cada um dos seus filhos como seres humanos pensantes e diferentes entre si, como futuros homens e mulheres com anseios e desejos próprios. E, talvez, descobrir que o amor por si mesmo e por eles seja o mais eficaz dos sacrifícios.