Cinema

Confira o quanto é quente o filme Boa Sorte Leo Grande

Produção é cheia de créditos femininos... e um presente para as mulheres

Foto: Divulgação
Boa Sorte Leo Grande

A resenha de hoje é pauta quente, não pela história em si, mas pelo conteúdo agregado de discussão e reflexão que o filme provoca. Vi o filme no telão, no Circuito de Arte, dividindo risadas, silêncios e surpresas com audiência na sala.

O filme é cheio de créditos femininos: dirigido por Sophie Hyde, escritora e diretora australiana, conhecida por seu premiado filme de ficção de estreia, “52 Tuesdays” , tem roteiro  Katy Brand, atriz, comediante e roteirista inglesa, produzido por Debbie Gray, produtora americana com mais de 20 anos de experiência em  cinema e música e tem como personagem principal, nada menos que Emma Thompson, versátil  atriz inglesa com ampla  filmografia, ganhadora do Oscar de melhor atriz (1993) pelo  filme “Retorno a Howard's End.

Com essa potência de mulheres talentosas já se pode imaginar como o universo feminino tem protagonismo nesse filme. Pois bem, o filme fala de Nancy Stokes, mulher de meia idade, viúva, menopausada, ex-professora de religião e que jamais teve prazer sexual durante o casamento. Nesse contexto de insegurança e frustração, ela resolve se dar a chance de viver o que até então lhe foi negado. 

Nancy contrata Leo, Grande, garoto de programa, sendo politicamente correta “trabalhador do sexo”,  interpretado, as vezes um pouco clichê, mas com graça e leveza pelo jovem (29 anos) e lindo ator irlandês  Daryl McCormack, para conduzí-la na descoberta desse novo mundo: se permitir e querer ter prazer sexual .

Em encontros sexuais sequenciados e bem pagos (Leo, Grande é caro), Nancy irá descobrir não só o prazer sexual, mas a se conhecer como mulher e como pessoa. Léo será um professor, paciente e criativo. São encontros entre diferentes, mas sem caricaturas, sem estereótipos.

Emma gagueja para dar forma a insegurança de Nancy. Emma mostra a dualidade de sua personagem com falas entrecortadas, meios-sorrisos  e listas de posições sexuais a serem experimentadas. Aliás, dualidade é o que não falta do filme: o corpo jovem, hígido, músculos aparentes e o corpo maduro com as suas marcas inerentes, mostrado  sem disfarces. 

O jovem que ensina e para quem o sexo é algo natural e a mulher de meia-idade que aprende que o sexo pode ser vivido sem culpa e com direito ao prazer,  mesmo para alguém que já cruzou a fronteira dos 50 anos e para quem o relógio biológico reprodutivo já fechou o ciclo.

Além disso, o filme tem cenas plasticamente lindas, como o momento em que Nancy se deixa levar pela dança sensual de Leo. É um momento prazer na tela e para o expectador. A cena final do filme, a mais esperada para quem já viu “os spoilers”, traz a beleza e plenitude da mulher que finalmente se conhece, se aceita e  quer ser a protagonista da sua vida sexual e além.

O filme tem momentos hilários, tem momentos de tensão, momentos de reencontros e de desculpas. Ainda que o acordo inicial fosse apenas sexo, a relação  entre Nancy e Léo evolui por um caminho de cumplicidade, parceria, mágoa, perdão e finitude.

O objetivo de cada um foi cumprido, sem exageros cênicos, com profundidade e ao mesmo tempo com a leveza necessária para ser um filme inesquecível. Certamente, um presente para às mulheres.