Cinema / Televisão

Você torce o nariz para comédia romântica ou gosta de filmes e amor?

Confira na resenha de Bruno Passos e celebre o Dia dos Namorados

Foto: Pixabay
Amor no cinema

Confesso. Sou daqueles que torce o nariz para comédia romântica. Também já fico sem paciência quando o filme é de romance. Essa sensação vem muito de experiências ruins com alguns filmes, que trazem uma estrutura muito formulaica ou um drama muito arrastado, desmerecendo algumas produções que abordam um tema tão rico como o amor. Mas claro, é muito bom sonhar e curtir uma história bonita e romântica, onde tudo dá certo no final.  

O Dia dos Namorados está chegando e o clima se instala para que os casais se juntem, declarem o seu amor e programem aquele jantar romântico, normalmente depois de pegar 2 horas de fila. Rancores à parte, voltando para o cinema e deixando de lado os exemplos ruins (como as comédias românticas que invadiram os anos 90 e que têm praticamente a mesma cara), podemos encontrar muita coisa boa para apreciar a dois.

Para começar, o que considero bons filmes românticos são aqueles que subvertem as convenções e apresentam novidades. Seja na estrutura narrativa, caso de “500 Dias com Ela” (disponível no Star +), contada com saltos temporais, avançando e retroagindo nas fases do relacionamento; seja no capricho do charme inglês, como “Quatro Casamentos e Um Funeral” e “Um Lugar Chamado Notting Hill” (ambos disponíveis no Prime Vídeo), esses fazem uma ótima casadinha de filmes que equilibram comédia, romance, boas atuações e drama. Outra boa opção é ver na tela intérpretes pouco prováveis nesse tipo de filme, como o caso de Clint Eastwood no destruidor de corações “As Pontes de Madison” (HBO Max). 

Há também aqueles que usam elementos fantásticos para contar a história de amor. “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” (Disponível no Telecine) é um exemplo, assim como o maravilhoso “Questão de Tempo” (Star +). E ainda existem os clássicos que, se usam a fórmula, pelo menos eles a inventaram: “Harry e Sally” (Prime Vídeo), “Sintonias de Amor”, “Mensagem para Você” (HBO Max) ... não à toa, todos protagonizados por Meg Ryan, namoradinha de Hollywood na época.

Porém, filme não deve ter mérito só por ser sobre romance e atingir um nicho e, sim, por ser bom mesmo, até para aquele que, como diz a música de Chico Buarque tem “apenas uma pedra no peito e exige respeito por não ser mais um sonhador...”. E por isso quero indicar uma trilogia de filmes que são grandes obras e dialogam (e como dialogam!) a respeito de relacionamentos, amor, maturidade, fantasia e realidade. Estou falando da “Trilogia do Antes”.

“Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr do Sol”, “Antes da Meia Noite” (todos disponíveis na HBO Max) são três filmes, com um intervalo de 9 anos entre eles. A cada episódio encontramos o casal nesse mesmo intervalo de tempo. A cada filme, um pequeno recorte da vida deles.  Jesse é vivido pelo indefectível Ethan Hawke e Celine é interpretada pela implacável Julie Delpy. Os adjetivos superlativos são para ressaltar a naturalidade e a entrega na atuação dos dois atores, que conseguem fazer você acreditar que não está vendo um filme e, sim, um trecho da vida de duas pessoas reais. Pessoas com sonhos, dificuldades, inseguranças, alegrias e tristezas. 

Além do prazer de encontrar personagens queridos a cada nove anos e ter a sensação de reencontrar bons amigos (algo como “quanto tempo! o que me conta de novo?!), a trilogia também consegue, de forma genial, marcar algumas fases do relacionamento: fantasia, realidade, crise... É incrível perceber, com o passar do tempo, as consequências das escolhas que eles fizeram ao longo da jornada. Normalmente, os filmes terminam num tom de “... e foram felizes para sempre”. Aqui, temos a oportunidade de presenciar o que aconteceu bem depois do “para sempre”, num realismo fascinante.

“Antes do Anoitecer” mostra o encontro desse casal e a maravilha que é conhecer alguém novo, alguém que apresenta algum tipo de conexão. E nele os jovens passam o filme conversando sobre a vida, o mundo e o seu olhar poético e filosófico sobre todas as coisas.... Como o próprio personagem diz: “Uma das coisas mais emocionantes que já vivi foi conhecer alguém, realmente conhecer e me conectar com alguém”. E assim eles usam o pouco tempo que tem, já que ela está voltando para Paris e ele vai pegar um avião às 09:30 da manhã do dia seguinte de volta para os Estados Unidos. Então, fazem um pacto de viver tudo que têm para viver Antes do Amanhecer e depois não vão mais se encontrar... 

Após a fantasia e o frescor inicial, um pouco de realidade em “Antes do Pôr do Sol”. O que terá acontecido com os protagonistas após quase uma década? Estiveram juntos, tentaram ficar juntos e a realidade demonstrou o lado menos romântico dos dois? Aqui, os atores e os personagens estão mais maduros, fizeram escolhas e, agora, continuam refletindo sobre os caminhos da vida. Ainda há poesia e fantasia no ar, mesmo que mais um pouco amargurados, mesmo que um pouco mais sofridos pelos golpes que a vida reservou para eles.

“Antes da Meia Noite” é a continuação do caminho, que se distancia daqueles 18 anos desde que se encontraram pela primeira vez. Os temas do dia a dia tomam o lugar das reflexões apaixonadas e sugam o poético para dar vez ao prático. Resistir ao tempo e às amarguras da vida é a prova de fogo para qualquer amor romântico. E, nessa trilogia, saboreamos cada etapa dessa jornada.

Vale ressaltar que a trilogia do “Antes” pode ser considerada um gosto adquirido. O diretor e roteirista Richard Linklater (O mesmo de “Boyhood”) fundamenta sua obra nos diálogos entre os dois protagonistas, pouquíssimos personagens coadjuvantes aparecem e tudo que acontece diz respeito aos dois. Mas isso também é a vida, certo? Essa história é sobre um amor no mundo real. Então, chama o “mozão” (ou sozinho mesmo, claro!) e viva essa experiência recompensadora.