Cinema

Resenha: Toscana, na Netflix, promete mas não cumpre

O que faz a diferença entre um filme comum e um filme bem trabalhado

Foto: Divulgação
Toscana

Este fim de semana chuvoso contou com alguma audiência a mais nas plataformas ... optamos por um filminho leve cujo nome já sugeria um belo passeio pela Itália e uma história de amor.

Toscana, filme lançado pela Netflix este ano, de origem dinamarquesa promete, mas não cumpre.

Logo ao ler a sinopse nota-se uma semelhança no enredo com Um Ano Bom, filme de 2006 dirigido por Ridley Scott e protagonizado por Russel Crowe.

Muito interessante observar o que faz a diferença entre um filme comum, e um filme bem trabalhado.

Em linhas gerais o enredo é mais ou menos o seguinte para ambos os filmes (Historia Banal): um sujeito afastado de suas origens, tanto física quanto psicologicamente, é obrigado a retornar na intenção de se desfazer de bens que herdou.

Segue para resolver esta questão de ordem pratica na intenção de retornar o mais rápido possível, mas lá chegando passa por experiencias afetivas que redirecionam sua vida.

Ridley Scott e Mehdi Avaz no entanto seguem por caminhos distintos.

Uma boa direção pode tornar uma história banal em uma jornada de beleza sem igual. Em Um ano bom, alguns toques de delicadeza merecem ser comentados.

A boa historia: um homem cuja infância foi marcada pelo convívio com o tio, ao crescer passa a representar o oposto de todos os valores que aprendeu.

Com a morte do tio, seu único parente vivo, vai a vinícola com a intenção de vendê-la o mais rápido possível. Mas é capturado por ela e retoma sua vida. Certamente não foi um ano fácil, porque a mudança de paradigma exige rupturas e elas sempre causam angustia. Mas certamente foi um ano bom.

Se analisarmos sob um ponto de vista psicológico, logo identificaremos a mensagem: o protagonista não somente entrou em contato com oposto de valores que aprendeu na infância, como o incorporou. Identificado com esta imagem, ela passou a dominar a sua vida. Ele não tinha amigos, apenas funcionários. Companheira, apenas acompanhantes.

O caso era tão grave que apesar de reconhecer que gostava muito do tio, este sentimento era blindado para acesso, e consequentemente a dor de tê-lo perdido. Em verdade, já o havia abandonado muito antes dele partir.

O retorno a vinícola se fez imperativo, algo como um remédio amargo que precisa ser tomado, não tem jeito. Este remédio amargo (ou esta doença abençoada) foi o ponto de partida para o seu retorno. Retorno ao lar. Retorno a si mesmo.

É um filme leve, sutil, charmoso e com uma ótima trilha sonora.

O mesmo não podemos dizer de Toscana. Com pequenas diferenças no enredo, tratando igualmente de um resgate do afeto paterno, Toscana não encanta. Falta uma sutileza, uma leveza e uma arte, especialmente para quem já assistiu Um ano bom.

Nila Costa é médica cardiologista, psicoterapeuta e amante da sétima arte.