Artes Visuais / Brasil

Exposição celebra Negrizu - 'O Moço Lindo do Badauê'

Relevância cultural, artística e pedagógica do dançarino revelado pelo Afoxé Badauê é celebrada em acervo digital

Foto: Shai Andrade
O memorial reúne o que há de mais recente na produção do artista de 62 anos
O memorial reúne o que há de mais recente na produção do artista de 62 anos

Uma exposição permanente que reúne e celebra o legado do dançarino, ator e performer Negrizu. Esse é o objetivo do Memorial Virtual Negrizu - Um Corpo Afoxé, que será lançado no próximo dia 29 de abril, Dia Internacional da Dança.

Oferecendo ao público acesso gratuito a um conteúdo artístico, cultural e educacional inédito, o memorial visa preservar de modo mais abrangente a memória pulsante da dança na Bahia, homenageando um de seus maiores nomes, Carlos Pereira dos Santos, o Negrizu.

Com direção artística e curadoria do selo Bahia Experimental, do músico Thiago Trad, o Memorial Virtual Negrizu – Um Corpo Afoxé é também um reconhecimento à trajetória de mais de seis décadas de Negrizu, eternizado enquanto o Moço Lindo do Badauê por Caetano Veloso na música Beleza Pura.

O memorial reúne o que há de mais recente na produção do artista de 62 anos, com performances, entrevistas, videoaulas e um catálogo fotográfico produzidos com exclusividade para celebrar esse momento, contribuindo assim para novas narrativas de valorização das culturas de matrizes africanas no Brasil.

Ao longo da carreira, Negrizu realizou trabalhos junto ao Ilê Aiyê, Olodum, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Clyde Morgan, Pierre Verger, Afoxé Badauê, entre outros.

Seguir o início de sua trajetória é percorrer as manifestações culturais que fizeram a cabeça da juventude negra de Salvador na década de 70.

Do sucesso da black soul, passando pelo célebre lançamento do Ilê Aiyê e culminando no surgimento do Afoxé Badauê, responsável por marcar e ressaltar de forma definitiva a qualidade expressiva desse artista.

“Negrizu na avenida é a vida e o rejuvenescimento de nossa gente em sua potência máxima”, escreve o poeta James Martins, em trecho do catálogo fotográfico, cujos textos são assinados por ele. As fotografias são de Shai Andrade, que consegue captar a expressividade intensa de Negrizu, sempre capaz de captar, elaborar conceitos e expressá-los na linguagem corpórea. O material em vídeo traz a direção de fotografia de Glauco Neves. Já a produção executiva do projeto ficou a cargo de Tatiana Trad.

“A arte sempre me atraiu, me magnetizou, sempre fui muito exibicionista”, conta o artista autodidata, cujo apelido Negrizu ganhou de amigos como Jorjão Bafafé e Moa do Katendê, ambos integrantes do Badauê e vizinhos do Engenho Velho de Brotas. Negrizu costuma dizer que começou a dançar quando começou a se movimentar, mas foi na década de 70 que a dança explodiu de forma mais consciente, justamente com a black soul e ídolo como Michael Jackson, Diana Ross, James Brown, Lady Zu e grupo Painel de Controle.

Pacifista, entusiasta dos movimentos negros organizados pelo mundo e defensor da arte e do trabalho comunitário, ele difundiu seu conhecimento de dança no Brasil e na Europa. 

O Memorial Virtual Negrizu – Um Corpo Afoxé, por sua vez,  nasce a partir do encontro do músico e pesquisador Thiago Trad, com o dançarino Negrizu há mais de uma década, quando o músico fez a sua primeira entrevista com o professor, ator, compositor, dançarino, griot, performer das artes e liderança comunitária no bairro do Engenho Velho de Brotas.  A relação entre os dois se iniciou pela arte e foi por esse caminho que se estreitou. 

“O meu lado produtor percebeu que o Moço Lindo do Badauê tinha se tornado o Mestre Negrizu, um artista referência da cultura afro contemporânea, da dança de rua, dos afoxés, que traz um nível de conhecimento ancestral profundo. Um artista vanguardista da linguagem corporal, que não se deixou lapidar por técnicas eurocêntricas. Isso tudo precisava ter um registro atual, é a memória viva da dança afro-baiana, por isso a necessidade de criar um Memorial”, diz Thiago Trad.

“O público terá acesso a um conteúdo muito poético, com entrevista, performances inéditas, e um lindo catálogo fotográfico, que traduzem no corpo toda a história de vida desse artista ‘indirigivel’, como ele mesmo brinca. Negrizu nasceu afrofuturista e se mantém na linha de frente da arte contemporânea da Bahia.Celebrar a sua existência é uma alegria para todos nós que estivemos envolvidos com ele ao longo desses meses na produção do Memorial. Viva o Mestre Negrizu”, comemora.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.