Palco

Espetáculo "Quem não morre não vê Deus" estreia dia 5 de março

O espetáculo celebra os 60 anos da Companhia Teatro dos Novos

Foto: Marcio Meirelles
Quem não morre não vê Deus
A peça foi censurada durante a ditadura militar

No dia 5 de março, sexta-feira, a Companhia Teatro dos Novos estreia seu mais novo espetáculo “Quem Não Morre Não Vê Deus”, montagem totalmente virtual do texto de João Augusto, artista fundador do Teatro Vila Velha.

A peça, que foi censurada durante a ditadura militar, se passa nos anos 30 e usa a poética de cordel para falar sobre a relação do povo com regimes totalitários.

O espetáculo fica em cartaz até 21/03 (sextas, sábados e domingos) sempre às 20h, no Novo Vila Virtual, palco online do Teatro Vila Velha. Os ingressos esta?o a? venda no Sympla (sympla.com.br/vilavelha) e custam R$10, R$20 e R$ 50. Fica a crite?rio do comprador pagar um dos tre?s valores.

Com direção de Marcio Meirelles, o espetáculo busca estabelecer um diálogo entre o teatro em plataformas digitais e a tradição do cordel, que foi base para João Augusto construir sua pesquisa, nos anos 60 e 70, período da ditadura no Brasil, e razão pela qual “Quem Não Morre Não Vê Deus” foi censurada diversas vezes e nunca encenada pelo autor, mesmo após diversas tentativas.

Segundo João Augusto em carta aos atores, não fazia mais sentido montar a peça com os cortes que sofreu. O espetáculo só foi encenado anos depois pelo Teatro Livre da Bahia em 1981 e pela Cia dos Novos e Bando de Teatro Olodum em 2003.

Marcio Meirelles pesquisa há anos a interação entre teatro e os novos meios de transmissão. Fez espetáculos que investigavam a presença virtual do ator e do público, como Bença, Drácula, Olho de Deus e, em agosto de 2020 estreou o primeiro espetáculo da Companhia Teatro dos Novos feito totalmente em plataforma virtual, Fragmentos de um teatro decomposto. 

“Esta montagem é também parte da celebração dos 60 anos da Companhia Teatro dos Novos e traz à cena a valorização da história e da memória de um país que sempre esquece seu passado. Com esta montagem a cultura popular e a cultura digital, no webteatro, mesclam linguagens e tempos, comprovando a atualidade do cordel.”, revela o diretor. 

A história se passa numa cidade do interior, na qual os moradores se veem encabulados com a notícia de que dois homens, perseguidos pela polícia, querem pousar na cidade. A contragosto, os habitantes acabam aceitando os visitantes e desenvolvem uma relação que vai de desconfiança a uma união que gera grandes riscos.

Nos arquivos do Teatro Vila Velha, foram encontradas três cópias do texto, com diferenças entre elas. Uma das, a de 1981, revela que a peça foi escrita em 1972 em homenagem a Carlos Lamarca, já a outra, aponta que o texto foi escrito em 1977. Sabe-se que João Augusto re-trabalhava seus textos cada vez que os encenava, e como nunca fez uma estréia desse, acredita-se que alguma coisa não o satisfazia. 

Quem Não Morre Não Vê Deus se difere das demais adaptações e peças originais de João Augusto nesse gênero de teatro que criou. Diferente das outras, a peça não vem de nenhum folheto, não segue a mesma linguagem, não tem narrador, é mais longa, e também não é feita em versos - as outras, ainda que escritas como prosa, conservam a métrica e as rimas dos originais. 

O ponto de encontro deste texto com os demais está nos assuntos abordados, nas citações de Zé Limeira e até na reutilização de um trecho de “Encontro de Chico Tampa com Maria Tampada”. Desta forma, Quem Não Morre Não Vê Deus toma emprestado da literatura de cordel mais o tema do que a forma. 

O desafio de dar vida a esta história, utilizando apenas plataformas virtuais, trouxe também uma série de vantagens. A assistente de direção e uma das autoras do projeto, Clara Romariz, revela que a obrigatoriedade de isolamento trouxe a questão de como fazer teatro, mas também a descoberta de que fazê-lo de forma virtual é uma possibilidade que amplia o alcance e leva o espetáculo a um público maior e diversificado, sobretudo, geograficamente. 

“Os Novos já trabalham no webteatro, mas é preciso aprofundar esta pesquisa e continuar, como há 60 anos, experimentando novas possibilidades para o teatro e seu público. Neste projeto unimos uma manifestação tradicional da cultura do Nordeste para atender a um publico e alcançar novos, mostrando que a tecnologia e a memória não são conceitos opostos e podem estar interligados”, reforça Romariz.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. 

Companhia Teatro dos Novos 

A  Sociedade Teatro dos Novos foi criada em 1959 e composta por Othon Bastos, Carlos Petrovich, Sônia Robatto, Echio Reis, Tereza Sá (Maria Francisca) e Carmem Bittencourt, com a liderança do diretor João Augusto. Todos eles nomes imprescindíveis ao cenário teatral baiano e brasileiro a partir dos anos 1960.

Em 1964 o grupo inaugurou o Teatro Vila Velha com o objetivo de ter um espaço para criar, produzir e pensar sua época numa perspectiva ampla, através do teatro, explorando novas linguagens, pesquisando tradições cênicas e dramatúrgicas e colocando-se na vanguarda das artes performáticas na Bahia. Ao longo de seis décadas a companhia teve diferentes formações.

Em 1995 a Sol Movimento da Cena estabelece parceria com o Teatro dos Novos que inicia experimentos como o 3&Pronto e oficinas. Com a reinauguração do Vila, em 1998, sob a direção artística de Marcio Meirelles conduzindo os atores do grupo original, participantes das oficinas e convidados, o Teatro dos Novos retoma plenamente suas atividades artísticas.

Em 2018, seu diretor artístico e a atriz e diretora Chica Carelli mais uma vez reestruturaram o Teatro dos Novos, com jovens atores e atrizes da universidade LIVRE, programa de formação em artes do palco, desenvolvido e mantido pela companhia.

Desde sua criação o Teatro dos Novos já montou 53 espetáculos, além de participar da produção de muitos eventos.  Desde o início, experimentação e encontros têm sido os eixos conceituais das produções da companhia e o Teatro dos Novos promove tanto o diálogo com autores de seu tempo, quanto a contextualização de autores clássicos e seus temas para a paisagem conturbada do tempo contemporâneo.

ANOTE

O quê: QUEM NÃO MORRE NÃO VÊ DEUS

Quando: 5 a 21 de março de 2021.

Sexta a domingo, 20h

Onde: ingressos: www.sympla.com.br/vilavelha