Jorge Portugal, de 64 anos, morreu no hospital Geral do Estado, em Salvador, por volta das 20h15 (horário de Brasília), de falência cardíaca aguda. O professor e ex-secretário de Cultura da Bahia estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) cardiovascular da instituição.
Segundo boletim médico da unidade, divulgado às 16h40, ele foi admitido “em estado crítico”, apresentava “quadro de choque cardiogênico”.
De acordo com o diretor-médico do Hospital Geral Roberto Santos, André Durães, "o coração dele estava muito fraco, em falência", sem capacidade de bombear o sangue para os demais órgãos. "O coração era dilatado e batia fraco", explicou. "A pressão caiu a níveis muito baixos, às vezes indetectáveis por aparelhos normais, o que chamamos de choque, sem reação aos medicamentos disponíveis em uma UTI", disse.
"Foram mais de 5 médicos e 5 enfermeiros, que se voluntariaram para ajudar a salvá-lo, mas o estado dele era irreversível", concluiu.
Portugal deixou a Secretaria de Cultura da Bahia em setembro de 2017, alegando questões pessoais e profissionais.
Um de seus desejos era a criação das escolas culturais. “É uma menina dos olhos. A ideia é aproveitar o manancial do território de cada município e fazer com que um mobilizador que é o professor, comece a despertar nos alunos a ideia de formar mais atores, dançarinos, músicos das próprias regiões. Temos todo um projeto de circulação da cultura pelos centros culturais”, dizia.
Segundo ele, a ideia era "transformar as escolas de cada município em casas culturais, colocar uma sala de cinema em cada escola da Bahia".
Luto na Bahia
O governador Rui Costa lamentou a perda e decretou luto no estado nesta terça-feira (4 de agosto).
“Imensamente entristecidos, lamentamos a morte do ex-secretário de Cultura do Estado Jorge Portugal. Educador, poeta, compositor, Jorge era um homem de múltiplos talentos, exercidos com a energia e a simpatia que inspirava todos à sua volta. Era, antes de tudo, um homem apaixonado pela Bahia e pelo seu povo, que estiveram sempre no centro do seu trabalho, fosse como administrador público, professor e artista. Como diz um dos seus versos: 'Uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente, só se vê, só se vê na Bahia'. Nossos sentimentos para seus amigos e familiares por essa grande perda.”
O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Villas-Boas, considerou a morte de Jorge Portugal "uma grande perda para a cultura da Bahia" e falou sobre o temperamento do professor e compositor. "Sempre alegre, sua energia contagiava onde ele passava. Sentirei sua falta."
O vice-governador João Leão, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, lamentou a morte de Jorge Portugal. "Era um amigo querido, com quem tive o imenso prazer de trabalhar na política e conviver na vida. Aos familiares e amigos, meus mais profundos sentimentos por este momento de pesar. Portugal deixa um legado para a língua portuguesa, pelo acesso democrático à educação e para a cultura baiana", disse.
O prefeito de Salvador, ACM Neto, divulgou mensagem afirmando que a Bahia "perde hoje um grande professor, poeta e compositor que trouxe valorosas contribuições para a educação e cultura da nossa terra".
Já o senador Jaques Wagner (PT-BA), disse ter recebido "com profunda tristeza" a notícia do falecimento. "Professor, artista entusiasmado pela cultura, o que o levou à missão de ser secretário de Cultura da Bahia."
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), revelou que este ano conversou com o compositor, definindo que ele seria candidato a vereador de Salvador pelo partido. "Portugal foi um grande professor, agitador cultural, compositor, artista e apresentador de TV. Fez da língua portuguesa uma coisa leve e gostosa de se aprender", disse.
Em nota, o presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, lamentou. "Um cidadão brasileiro, baiano e Santamarense de responsa, esse sempre foi Jorge Portugal. Impossível falar dele sem um sorriso nos lábios, uma leveza na alma e muita poesia no coração. Portugal ressignificou o ensino com sua excepcional verve comunicativa e valorizou, como ninguém, nosso jeito de ver o mundo e se relacionar com ele. Com sua partida, as palavras perdem seu brilho e a nossa língua perde um de seus melhores tradutores. Vá em paz grande mestre!."
Jorge Portugal nasceu em Santo Amaro, dia 5 de agosto de 1956. Foi apresentador de TV (onde criou e apresentou por 9 anos o programa "Aprovado", voltado para vestibulandos), letrista, poeta, professor universitário e compositor.
Escreveu os livros "Redação é assim", adotado por cursos pré-vestibulares de Salvador, e "Porque o Subaé não molha o mapa", reunindo 15 crônicas, tendo como cenário a cidade de Santo Amaro, ou “Santinho”, como chamava.
Suas composições
-- A Beira e o mar (com Roberto Mendes)
-- A massa (com Raimundo Sodré)
-- Amor de matar (com Roberto Mendes)
-- Assim como ela é (com Roberto Mendes)
-- Baião pisado (com Raimundo Sodré e Roberto Mendes)
-- Brasileiro, profissão sonhar (com Roberto Mendes e Raimundo Sodré)
-- Coió da Anália (com Raimundo Sodré)
-- Filosofia pura (com Roberto Mendes)
-- Menino triste (com Raimundo Sodré)
-- Resistência (com Raimundo Sodré)
-- Só Se Vê na Bahia (com Roberto Mendes)
-- Vá pra casa esse menino, viu? (com Raimundo Sodré)
-- Vida vã (com Roberto Mendes)
-- Vila do adeus (com Roberto Mendes)
-- Iluminada (com Roberto Mendes)
Ouça
Só se vê na Bahia (Jorge Portugal e Roberto Mendes)
No vídeo
A Massa - Jorge Portugal e Raimundo Sodré
Jorge Portugal deixa esposa, Rita Vieira, e três filhos: o sociólogo Caetano Ignácio, a atriz Bárbara Bela e o jornalista Thiago Dantas.
Jorge Portugal, da massa, da Bahia e do Mundo
"Alguém escreveu que o céu de Santo Amaro da Purificação tinha uma estrela a mais hoje. Recebi tantas mensagens, li tantos textos que peço desculpas pela preguiça de não procurar o autor. Mas, tenho que discordar em parte, pois não foi apenas o céu da terra de Caetano que ganhou mais uma estrela; foi o céu da Bahia e do Brasil. A chegada de Jorge Portugal é certeza de festa entre as estrelas no céu brasileiro.
A mim, só resta agradecer a Deus a oportunidade de ter conhecido e convivido com uma bela figura humana: gente na máxima expressão da palavra. São várias recordações recheadas de carinho e admiração que vão desde um encontro fortuito em pleno centro antigo de Roma a várias reuniões na Secretaria de Comunicação do Estado muitos anos depois.
Mas, permita-me, poeta, dizer que o mais fantástico momento foi nos bastidores do ensaio de Maria Bethânia, numa quinta-feira, véspera da inauguração da nova Concha Acústica. E você disse pra rainha: "Vai, agora é com você. Estamos realizando um sonho". E Bethânia respondeu: "A inauguração não é hoje. O sonho só será realizado amanhã". De tantas pessoas que vibraram, não me lembro de uma vibrar tanto com a nova Concha quanto Jorge Portugal. Um entusiasta da cultura, das aulas de Português, um amante de fazer amigos. Um poeta, um sonhador, um ser humano da democracia e da liberdade. Um daqueles caras especiais que sentem "a dor do menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar... a dor de nem poder chorar".
Jorginho soube viver e interpretar a sociedade e suas angústias em tempos sombrios e duvidosos. Fez parte de uma massa. Teve sensibilidade de sofrer ao falar da massa, "a massa que falo é a que passa fome, mãe...". Deixa uma obra imortal. Faz parte de uma daqueles baianos humanos imortais. Luto e saudade."
André Curvello - secretário de Comunicação da Bahia