Gastronomia

Projeto 'Cozinhando com Cachaça' faz releitura da gastronomia maranhense

Última live de julho terá as participações do chef Alê Barreto e do bartender Dan Morais

Foto: Alê Barreto
Gastronomia
Culinária maranhense possui diversos sabores e cores

“No mês de junho tem o Bumba Meu Boi/ que é festejado em louvor a São João/ O amo canta e balança o maracá/ A matraca e pandeiro é que faz tremer o chão (sic)”. A toada “Maranhão, meu tesouro, meu torrão”, escrita por Humberto Mendes (1939-2015), revela para onde viajaremos na live de amanhã (26.07) às 11h no Instagram @quitandadobaianinho. Quem nos guiará nessa viagem sinestésica serão o chef Alê Barreto e o bartender Dan Morais.

No último episódio do mês de julho, a protagonista, dessa vez, será a cachaça maranhense Guarnicê, enriquecida em barris de carvalho europeu. Com essa matéria-prima, o prato apresentado será a Jabiraca na Guarnicê. Aqui na Bahia, conhecemos o peixe pelo nome de traíra. “A jabiraca é um peixe de água doce, típico da Baixada Maranhense, região pantanosa do estado. É também chamada de bacalhau maranhense, uma vez que a técnica do sal e sol é utilizada para desidratá-la. Por ser salgada, harmoniza muito bem com as notas de carvalho e caramelo da cachaça Guarnicê”, comenta o chef Alê Barreto.

O chef ressalta que a intenção dessa live é mostrar a autenticidade e o valor da culinária maranhense, que tem uma diversidade de sabores e de pratos e está dividida em Litoral, Cerrado e Baixada. “Do litoral, utilizamos como ingredientes os peixes uritinga, robalo, os crustáceos sururu, camarão pistola e o fruto juçara [ou açaí].  Já do cerrado, usamos o babaçu, o buriti, castanha de caju. Da Baixada, o abacaxi de Turiaçu, o bacuri e o cupuaçu são os frutos típicos, além do peixe jabiraca. Os pratos típicos são o Arroz de Cuxá, a Torta de Jabiraca, a peixado, o vatapá e o caruru maranhenses, a juçara com camarão ou peixe frito”, enumera.

Assim como nas outras lives, a cachaça estará presente tanto no prato quanto na bebida. Quanto aos drinks dessa semana, o bartender Dan Morais mostrará releituras dos clássicos Bramble e Old Fashion também com a Guarnicê. “Elaborei esses drinks para harmonizar com o prato do chef Alê Barreto. O primeiro é levemente ácido e tem suas mudanças de cor, um pouco mais arroxeado, por conta da juçara. É feito à base de cachaça, limão e um shrub (tipo de xarope ácido, acrescido de vinagre) de cupuaçu. O segundo leva o uísque Bramble, que tem notas de baunilha, de amadeirado e bitter de laranja. É um drink mais amadeirado, com especiarias”, adianta.

“Vamos guarnicê (sic) o batalhão!”

Denominada “Boi de Maracanã – Ouro”, a cachaça Guarnicê possui uma edição comemorativa em homenagem aos festejos juninos do Maranhão, característico pelas apresentações de bumba-meu-boi, em parceria com a Associação Cultural Boi de Maracanã. “O Bumba Meu Boi do Maranhão tem um significado muito importante, dentre as múltiplas e diversas expressões culturais do estado. Não foi por acaso que, no ano passado, foi merecidamente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade [pela Unesco]. É nesse contexto que se encontra o Boi de Maracanã, seja quanto às suas especificidades (cantadores, aos seus boieiros, aos seus brincantes, ao seu sotaque de matraca, suas vestimentas, seus diretores), seja em relação a todos os que trabalham com muita paixão e fé para que todo ano coloque seu boi para brincar e honrar seu título de ‘Batalhão de Ouro’, explica o produtor da cachaça Helder Rocha.

Ele ainda relata que esse projeto com o Boi de Maracanã não se trata de um apoio simplesmente, pois de um conceito em torno do qual surgiu a marca Guarnicê, palavra que antecede o início da brincadeira do Boi nos arraiais. “Esse projeto iniciou em um em julho de 2010, quando eu e minha família migramos de Minas Gerais para o Maranhão. Naquela época, aprendi o que era o termo ‘guarnicê’, no âmbito da importante expressão cultural do povo maranhense, o Bumba Meu Boi do Maranhão. É comum ouvirmos o cantador, em suas maravilhosas toadas dizer que vai ‘guarnicer’ o batalhão". E foi com o respeito e responsabilidade que resolvemos criar uma marca que estivesse nesse contexto”, destaca Rocha.

“Não existe cultura nordestina sem cachaça”

Essa é a afirmação de Dan Morais ao ser perguntado sobre a relação da região Nordeste com essa bebida genuinamente brasileira. “É interessante porque nossas tradições vêm com cachaça. Aqui na Bahia, nas tradições religiosas, você utiliza o marafo [aguardente utilizado nos rituais das religiões de matriz africana] para o padê (cerimônia na qual se oferecem comidas e bebidas ao orixá Exu antes das aberturas dos caminhos). Em outras cerimônias religiosas do Nordeste, a cachaça está sempre presente, principalmente na cultura do nosso interior. Então, cultura nordestina e cachaça são coexistentes”, opina.

O Projeto “Cozinhando com Cachaça” prossegue com as atividades até o mês de agosto, quando se encerra no dia dos Pais (09.08). A próxima live contará com a participação do professor João Simoncini e ocorrerá no dia 02 de agosto. Quem não puder acompanhar a live de amanhã terá a oportunidade de assisti-la na íntegra no IGTV da @quitandadobaianinho posteriormente.

No vídeo
Maranhão, meu tesouro, meu torrão - Humberto Maracanã?